"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

domingo

Trégua.


Matei um mosquito e me senti culpada. O ceu sujo de nuvens carregadas pareceu sombrio. As garotas gordas me encantaram em suas mini saias. Concelhos e confissões quebraram minha guarda. A insônia chegou com força, e trouxe reflexões atrazadas. A ética me obrigou a maquiar muitas conclusões. Me enganei e gostei do sabor. Assiti a filmes suficientes para ofuscar minha realidade. E depois de polida, ela pareceu um teatro monótono. Em alguma parte daquele inverno eu esqueci de ser dócil. No verão seguinte eu já nem lembrava dos cheiros. Cresci, ou fingi que cresci, e passei a ver tudo em preto e branco. Tentei então me rebelar. Não consegui. Me calei. Aí tentei mudar. Foi dificil. Tentei mais. O sol roubou lágrimas dos meus olhos. Compromissos me roubaram a sanidade. Tentei vingança. Falhei. Rostos sorriram ao meu redor. Rostos se fecharam ao meu redor. Rostos não se moveram ao meu redor. Muitos rostos estiveram ao meu redor. Por todos os lados, com todas as mascaras. Olhei de volta. Sorri de volta. Chorei de volta. Julguei de volta. E por fim, cansei de volta. Agora o tempo está lindo, e eu quase ouço um riacho chiar de longe. Acho que mereço um descanço.

sábado

Culpa, pena e tempo.


Isso a persegue. Isso a derruba. Todos os olhares cautelosos e os gestos amorosos, eles a cegam. Dó é a culpa mais dolorosa. E amor, a mais ardente. A ardósia vai continuar intacta, e a rosa vai continuar morrendo, ambas pegando pó e empalidecendo com o tédio. Tantas noites de chuva ainda hão de lavar os sonhos, enquanto tantas rajadas de vento ainda hão de molhar as janelas. E tantas vezes você ainda vai encarar as estrelas e se perguntar o porque de tantas oscilações de sabor. Mas quem sabe talvez, depois de todas essas noites, e depois de todos estes hormonios, ela não se molhe na chuva e não se seque ao vento, e com a cara virada pro brilho nude das estrelas que lhe juraram tantas coisas, ela não se permita chorar? E, meu amigo, não se esqueça, quando este dia chegar, permaneça na cama. Ouça os soluços e os engasgos molhados. Despiste as mentiras que tentarem aparecer. Sinta o calor que virá quando acabar. E se acabar, nunca mais a console.

quarta-feira

Deixe ser.


É preciso ter feridas para ter historia, ter cicatrizes para ter provas, e ter historia e provas para ter vivido. Então viva, porque feridas se curam e cicatrizes tem seu charme...

segunda-feira

Importancia.

Quando tudo parece sem sentido, paramos pra refletir.

E ai vemos a desimportancia das coisas.
E ai notamos que refletir é desimportante.
E ai tudo parece vazio.
E ai vemos que tudo é, de fato, vazio.
E ai nos propomos a viver sem pensar.
E ai notamos que viver é pensar.
E ai tudo fica sem sentido, mais uma vez.

The great escape.



Paper bags and plastic hearts
All our belongings in shopping carts
It's goodbye...
But we got one more night

Let's get drunk and drive around
And make peace with an empty town
We can make it right...

Throw it away, forget yesterday
We'll make the great escape
We won't hear a word they say
They don't know us anyway

Watch it burn, let it die
Cause we are finally free tonight

Tonight will change our lives
It's so good to be by your side
We'll cry...
But we won't give up the fight

We'll scream loud at the top of our lungs
And they'll think it's just cause we're young
And we'll feel so alive

[...]

All of the wasted time
Hours that we left behind
Answers that we'll never find
They don't mean a thing tonight...

boys like girls

domingo

Cansaço austero.

Me sinto pesada, suja e errada. Como uma alma pura que nunca fez caridade, como um potencial pisado e chutado. Tanta coisa que eu poderia fazer. Tanta coisa que eu poderia ser. Inúmeros futuros na prateleira, inúmeras ações esboçadas nos projetos. Necessidades que de repente nem são mais necessárias. Supérfluos sem os quais eu não seria nada. Divindades que eu ignoro, idiotices que eu idolatro... Crenças, opiniões revolucionarias, então porque ainda sinto este vazio de vontade própria? Crucificando o ego alheio mas sempre cuidando das aparências. Fingindo que não preciso de ninguém e esperando desesperadamente que alguém precise de mim. Olho pra minha historia... tão pequena. Anos e anos de catança, porque a mochila ainda está tão leve? Eu quero gritar correr e quebrar tudo pelo caminho. Planos e mais planos. Num segundo parece que eu consegui tudo o que sempre quis, e então eu já não quero mais nada daquilo. Me sinto miserável. Então me inspiro em qualquer coisa e proponho zilhões de mudanças. Ai penso que não sou capaz. Olho pro nada e encontro novos horizontes, então anoitece e eu os perco de vista. Eu penso tanto que acabo sem saber o que pensar, e eu quero tanto que acabo sem saber o que querer. E sem saber eu só acabo. E acabo sem saber...

sábado

Apelo.


Uma dica: Pare de cuidar dos problemas alheios, e talvez então os seus diminuam.
Uma ideia: Esqueça dos seus motivos e tente se lembrar das suas origens, e talvez então você não se contradiga.

Um conselho: Não se pare sempre que se flagrar perto demais de dar a cara à tapa, e talvez então você viva algo que valha a pena.

Um pedido: Diga mais “não” ao próximo que a si mesmo, e talvez então você poupe lamentos no discurso final.

Uma ordem: Acredite em você, e talvez então as pessoas acreditem.

sexta-feira

A verdade é falsa.

A decepção é a rotina. A surpresa é a contradição. O prazer é a estupidez.
O perdão é mentira. O amor também. O desejo é ilusão. A satisfação também.

A amizade engana. A paixão enlouquece. O consumismo completa. A culpa corrói.
O respeito é cego. O ego é surdo. A revolta é muda.
A vida ensina. A morte cala. A nascença começa. A alma acaba.
Quem viu sente. Quem sabe conhece. Quem quer tem.
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Menos opções. Menos promessas. Menos desejos. Mais vida.