"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

sexta-feira

"rambling man"


a gente morre o tempo todo. a gente vive morrendo, de novo e de novo. falamos coisas que não fazem sentido, com ou sem pretensão de parecer quaisquer coisas. agimos sem coerência, pra arrependermo-nos mais tarde. ou não. às vezes não ligamos a mínima. se eu me preocupo com a gramática e falo palavrões, é porque e apenas porque eu vejo que sempre erro na gramática, e ainda torço o nariz para alguns verbetes. essa romantização do ser e do não ser não faz o menor sentido, mas não deixa de ser tocante. o mesmo para a idealização do escrever, quando escrever é vazio. às vezes é esse vácuo mesmo que idealizam. a gente adora idealizar o ignóbil. no fundo a gente não faz ideia de o que pensa. e de o que somos. huxley me agradou hoje pela manhã, através da obra de um personagem. eu sempre reclamei não ter tido nenhum motivo maior, grandiloquente ou traumático que fosse, para moldar-me a personalidade - escolhi a dedo tudo o que fingi ser até agora. anthony, o personagem, colocou que a única possibilidade sincera de personalidade é aquela que não se é moldada pelo meio. aquela que não se define e que não tem razão para ser, pois somente esta pode vir do nosso verdadeiro âmago, e não de um desenhado pelas circunstâncias. ou talvez anthony não pensasse nada disso e o meu cérebro tenha deixado-se divagar demasiado. mas, independente disso, ele logo se embasbaca em sua própria desgraça de caráter romântico e justifica as conclusões como fugas generalizadoras vazias de significados, as quais ele apenas buscou por consolo fraco. não vou desmenti-lo, pois então ele explica que apenas os bárbaros e ignorantes têm uma personalidade, pois nada sabem de si, ou em que podem transformar-se, e a partir dessa linha deixa de felicitar-me para cair de cara em uma explicação surda. existir é tão vazio. ser. a gente não é. a gente nem sabe o que fazer para começar a ser. personalidades, limites, obras... não passam das fugas generalizadoras do anthony. do huxley. suas e minhas. e tanto faz ser romântico, intelectual, claro ou caótico - e ninguém está sugerindo respectividade entre essas linhas -, o homem "não-é" do mesmo jeito. e se eu perdi a clareza, não quer dizer que já não tenha um sentido. ao menos não obrigatoriamente. que seja. o homem não-é. o homem não-sabe. mas ele quer... só que, bem ou mal, eu estou morrendo agora mesmo.

oh naive little me, asking what things you have seen, and you're vulnerable in you head
you'll scream and you'll wail 'till you're dead
creatures veiled by night, fallowing things that aren't right,
and they are tired and they need to be led
but you'll scream and wail 'till you're dead
[...]
but if i sit here and weep, i'll be blown over by the slightest of breeze, and the weak need to be led
and the tender are carried to their bed, and it's a pale and cold affair, and i'll be dammed if i'll be found there
[...]
and it's hard to accept yourself as someone you don't desire
as someone you don't want to be
http://www.youtube.com/watch?v=JvwWzcLfH-k

sábado

Limitar a educação?

"A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida."
(John Dewey)

É um pouco incoerente reclamar sobre a educação nacional e erguer placas contra quando alguém sugere alguma mudança, mas eu não me convenci de que a proposta de José Fernandes de Lima, do Conselho Nacional de Educação (CNE) seja satisfatória.
A ideia é que as escolas priorizem uma área do conhecimento, dando a esta maior ênfase. As tais áreas ficariam divididas em ciência, tecnologia, cultura e trabalho. O objetivo alegado é aumentar o interesse dos alunos na escola, o qual segundo as estatísticas é atualmente muito pequeno. Com a ultrapassada premissa de "aproximar a escola do aluno", a nova configuração - que deverá atingir o ensino médio, caso a medida seja homologada pelo Ministério da Educaçao (MEC) - pretende tornar o conteúdo dado em sala de aula mais condizente com a carreira que o aluno pretende seguir, o que em teoria aumenta o empenho dos estudantes em realmente aprendê-lo.
A sugestão é que as áreas de atuação das escolas sejam coerentes com a localização das mesmas - o que eu particularmente acho horrível. Os exemplos não ficaram claros para mim, pois não especificou-se exatamente o que se inclui em cada uma das áreas (quais as divergências entre 'ciência' e 'tecnologia', e que diabos se estudará na área 'trabalho'?), mas predestinar as pessoas de acordo com o local onde vivem me parece muito errado.
Se cidades industriais focarem-se em tecnologia, e cidades litorâneas em cultura, ainda que nenhuma cidade fique sujeita a apenas uma área de aprofundamento já que existem várias escolas em cada uma, a diversidade de pensamento - e quiçá o senso crítico - serão prejudicados.
Ao meu ver, o processo educativo perderá sua essência, pois já não terá como objetivo proporcionar conhecimentos diversos para que o aluno, o ser humano, descubra-se e forme-se de acordo com suas crenças e preferências. Na verdade, acho que tal divisão da escola em áreas de atuação causará um grande alienamento, que contrapõe-se integralmente ao meu conceito de escola ideal.
Além disso me preocupa a noção de que se essa medida for aprovada, a escolha da carreira a ser seguida pelos alunos se antecipará ainda mais, e se já é um suplício ter que decidir qual área seguir no terceiro colegial, decidí-lo no primeiro colegial - ao optar pela escola e por conseguinte pela área de atuação da mesma onde será cursado o ensino médio - é uma péssima ideia.
Ao concluir o ensino fundamental, os adolescentes geralmente não têm ainda a noção de a qual área do conhecimento pretendem se dedicar. Esta é uma escolha muito importante e que exige maturidade e autoconhecimento. É insensato pedir que alguém de catorze anos saiba o que pretende fazer de seu futuro - já acho insensato exigi-lo a pessoas de dezessete.
A educação brasileira precisa melhorar em todas as áreas, e não cumprir seu dever em apenas uma. Soa como comodismo, como enganação. "Se não conseguimos ser bons em todas as áreas, abandonemo-las para nos esforçarmos em apenas uma", é como eu ouço a notícia. A educação não será melhor se cumprir de verdade o seu papel em apenas uma área, pois tornar-se-á deficiente nas outras.