"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

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domingo

A minha coisa de cabelos castanhos

Passei pela sala, minha irmã tava assistindo um concurso de beleza.

_ Vai assistir algo que não diminua teu cérebro, Giovana. Teus neurônios tão se suicidando!


_ Lucas, vê se me erra. Por que não volta pros teus quadrinhos infantis, hein? Aquilo sim é intelectualidade. Aposto que teu QI triplica a cada fala de 100 caracteres.


Mas eu nem tava lendo quadrinhos. E não eram infantis, mas ela nunca tinha aberto um. Saí no quintal, me apoiei no varal pelas juntas dos braços e soltei o peso. O varal é meio baixo e eu sou meio alto. Fiquei passando o pé descalço no chão molhado, choveu agora há pouco, e fiquei encarando o céu com os olhos espremidos, acho que eu devo passar menos horas enfiado no meu quarto ou vou acabar fotofóbico. Tanto faz, nem gosto muito de sol de qualquer jeito.


Depois de um tempinho o braço começou a doer, daí andei um pouco em círculos e voltei pra porcaria do meu quarto. Deitei na cama. Caralho, que tédio. Talvez eu devesse mesmo ir ler um quadrinho. Sabe, eu era bem ligado nessa de quadrinhos, me divertia à beça. Sei lá por que, mas ultimamente perdeu a graça. As publicações novas não estão prendendo meu interesse, e os clássicos que eu já conheço de cor se tornaram insuportavelmente monótonos. A Giovana deve estar certa. Acho que eu fiquei velho pra aquela merda.


Sentei no computador e entrei no msn. Tem que ter um desgraçado à toa pra sair comigo. Rolei a barra. Ninguém de interessante, que merda. Fui ao youtube, mas que estranho, nenhuma das bandas que eu conheço surtiram qualquer efeito. Aí abri outra aba e digitei por ninfetas, no google imagens. Eu poderia procurar pornografia de verdade, é que sei lá, tô quase bêbado de preguiça, quero algo leve.


Umas menininhas pirralhas, que coisa não?, e umas outras anônimas no momento daquelas fotos provavelmente tão entediadas quanto eu estou agora. Fui passando as páginas, mas nem deu vontade de continuar. Uns peitos feios, disformes. Deixa pra lá. Aí notei que a Julinha tava online. Julinha é minha amiga. Às vezes a gente se pega, outras vezes a gente só conversa. É que a Julinha é meio criança de vez em quando, mas ela é engraçada. Cliquei no nome dela e disse que tava indo pra lá, ela nem respondeu mas eu fui mesmo assim. Ela mora aqui perto. Fui saindo, aí a mala da minha irmã chamou querendo saber quando eu voltava.


_ Sei lá Gi, antes do natal.


_ Idiota.


_ Fala pra mãe que eu fui na casa da Julia.


Aí ela respondeu com um grunhido afirmativo e eu saí. Sei lá, eu gosto da minha irmã. Ela é meio imbecil às vezes mas é coisa da idade. O porteiro já me conhecia, então me deixou entrar, aí subi com o elevador e cheguei a mão na porta. Aconteceu que tava o maior berreiro lá dentro, então eu não bati na porta. Era o pai dela gritando com ela. Hesitei por uns segundos, e quando eu ia decidindo que era melhor ir embora ouvi um barulho na maçaneta. A porta abriu e o pai dela saiu, transtornado e ofegante. Eu sai do caminho dele. Ele se sobressaltou um pouco com a minha presença, mas bem pouco. Aí parou na minha frente, olhou pra minha cara, primeiro com vestígios da raiva que expressara há pouco, mas logo em seguida ele soltou o ar que estufava-lhe o peito e me lançou um olhar de derrota. Eu fiquei meio sem reação, não sabia se devia abraçar ele ou ficar puto por ele ter gritado daquele jeito com a minha amiga, ou simplesmente correr antes que toda aquela fúria voltasse e se virasse pro meu lado. Mas acabei só ficando parado, com cara de taxo. Aí o pai dela saiu e desceu pelas escadas, sabe-se lá para onde, sem transparecer mais nada. Eu entrei.


A cena era meio triste. A Julinha tava sentada no canto da sala, abraçada com os joelhos, chorando aos soluços, parecia uma criancinha indefesa. A Julia tem muito disso. Tem hora que ela é inconsequente e maluquinha, e impera sobre a turma toda. Mas tem outras horas que ela simplesmente fica vulnerável e desprotegida, e por algum motivo nessas horas eu fico louco de vontade de abraçar ela bem forte, fazer um carinho e dizer que vai passar. Foi mais ou menos o que eu fiz.


Fechei a porta e tranquei, a chave ainda estava lá, e fui me sentar ao lado dela. Ela só levantou o rosto pra ver quem era, mas continuou exatamente como estava. A gente ficou lá em silêncio uns quarenta minutos, eu encostado na parede e ela encolhida em mim, e as lágrimas foram acabando. Findo esse tempo, ela disse que tava com fome. Eu sei que eu devia ter levantado e ido arrumar algo pra ela comer, mas se eu deixasse aquele momento de fragilidade escapar, ela nunca ia me falar exatamente o que estava acontecendo. A Julinha é bem assim. Ela é completamente legível por suas atitudes e comentários, mas tirando os momentos de desgraça em que abaixa todas os muros, ela nunca fala qual é a real. Ela é carente pra caramba, mas odeia expor os fatos. Eu não sei do que ela tem medo, mas sei que ela se sente tão confortável nessa instabilidade que evita racionalizar. Ohei pra cara dela e perguntei bem sério:


_ Porque ele tava gritando?


Ela ficou em silêncio. Deu pra ver que ela estava metade lidando com a dificuldade que tinha pra responder, e metade planejando como desconversar. Mas acabou soltando:


_ Ele tá exausto de mim, assim como todo mundo. E ele está certo. Eu tenho feito todo mundo louco. Eu tô fazendo de tudo pra tornar mais doloroso pra ele, mas eu sei que não foi culpa dele. Sei mesmo. É que eu sinto muito ódio, e tenho descontado nele, por ele ser o único que tem obrigação jurídica de me suportar, mas também em mim mesma. Por isso tanta inconsequência. Por isso tanta resposta ríspida. Mas eu tô acabando com ele, e hoje ele precisou gritar. Ele disse que eu sou a maior egoísta do mundo por querer piorar tudo pra todo mundo só porque eu não consigo superar. Ele foi pra um hotel e me deixou o número dele. Disse que ele também tem algo para superar, mas que se eu mudar de ideia, é só eu ligar e ele volta pra cá, pra nós passarmos por isso juntos. Aí eu gritei que ele queria era reconstruir a vida dele com qualquer vadia e deixar eu me me matar que nem ela fez, que queria se livrar do estorvo que eu sou assim como se livrou dela, ou então deixar eu me perder no mundo pra parar de impedir a felicidade dele. Eu disse um milhão de bobagens, todas as piores que eu fui capaz de pensar. Aí ele respondeu que queria que eu entendesse a realidade, e saiu. Mas eu sei que tô errada e ele tá certo. Eu tô com muita fome.


Eu fiquei impressionado com a sinceridade e completamente assustado. Aquela era uma Julia que eu nunca conhecera. Ela falou baixo e lentamente, sem perder o fluxo, e eu estava comovido por ela ter conseguido. Ela definitivamente precisava dizer aquilo em voz alta. Isso foi de uma maturidade que ninguém jamais poderia supor que aquela Julia drogadinha e hostil pudesse ter. O que aconteceu foi que a mãe dela se suicidou, faz acho que cinco meses. A mãe era maníaco depressiva, e um dia simplesmente resolveu tomar uma coleção de comprimidos pra foder com a vida de todo mundo, inclusive a própria. A Julia ficou revoltada, e daí saiu toda essa merda. Levantei e fui até a geladeira, que estava caoticamente vazia. Ela e pai estavam arrasados, nada estava certo pra eles, logo a despesa não estava sendo feita regularmente. Acabei arrumando um macarrão, ajeitei a mesa e tudo, e depois de meia hora fui até a sala e levantei a Julia, que ainda estava no mesmo canto, mas agora toda esparramada e com os olhos vagos. Levei ela até a mesa, comemos em relativo silêncio - ela só agradeceu e elogiou a comida - e quando terminamos, ela me surpreendeu ainda mais: ela sorriu. Levantou, chegou perto de mim, se ajoelhou em frente à minha cadeira, e sorriu de boca e olhos de um jeito todo lindo. O cabelo dela estava uma zona, o nariz vermelho e o rosto inchado, com algumas marcas de unha pelo rosto, mas mesmo assim ficou bonita quando sorriu. Mais bonita ainda porque sorriu pra mim. Aí ela disse "obrigada", beijou minha boca e me deu um abraço terno. Depois me olhou com olhos convidativos, meio safados e um tanto debochados, comprimiu o sorriso, pegou minha mão e foi me guiando até o banheiro, ligou o chuveiro, tirou a roupa e sentou na banheira, de costas pra mim, e foi jogando a cabeça pra trás até que pudesse me ver, de ponta cabeça pela perspetiva dela. Então ela me lançou a maior risada de criança, e eu acabei indo ensaboar o cabelo dela com o xampu. Depois levei ela pro quarto, estendi um cobertor e fiquei lá, olhando ela dormir. Ela era super bonita e eu estava louco de vontade, mas acabei sendo só um pai. Na verdade eu sabia que naquela hora ela precisava mesmo era de um pai, ainda que não soubesse. Na manhã seguinte minha mãe ligou perguntando quando eu voltava, e eu disse que ainda tava na casa dela e tal, aí me lembrei do puta vazio existencial que estava me corroendo antes de eu entrar naquele apartamento. Acho que todo mundo devia usar suas horas de tédio maluco pra cuidar de alguma coisa. Qualquer coisa. Isso preenche, tá ligado? Isso faz bem, e é mais útil. Agora eu vou levar a minha coisa pra tomar um sorvete. Só não consigo decidir se vai ser um programa pai e filha ou um encontro de casalzinho. Pretendo ficar aqui mais uns dias, e depois eu sei que ela vai ligar pro pai dela e ter uma conversa longa e pessoal. Aí eu volto pros meus gibis.

Confissão (continuação)

Felipe olhou o visor do celular: Andressa, obviamente. Primeiramente sentiu raiva. Ele precisava de reclusão, de tempo, de se organizar, e ela era - sempre fora - incapaz de dar o devido espaço às pessoas. Mesmo assim, devido à culpa por não estar sendo honesto com, Felipe acabou atendendo calmamente o celular. Ele tivera uma resolução nos últimos minutos.
- Alô?
- Felipe, eu te odeio.
- O que? Não, você não me odeia Andressa.
- Você é um idiota. Tem razão, eu não te odeio, mas você é o maior cretino. Você não entende que está errado? Mesmo que você tenha me contado que me traiu, mesmo que você tenha terminado comigo no lugar de manter dois relacionamentos, você é um idiota. Um estúpido! Por que você fez isso, seu imbecil? Por quê?
E Andressa começou a chorar. Felipe levantou-se do meio fio e deu alguns passos a frente, mas sinalizou para que Ed continuasse ali, ele tinha tomado uma decisão. Doía muito em Felipe ouvir os soluços da menina. A relação deles já não estava boa e ela não o compreendia, mas depois de três anos é natural que se tenha um grande afeto pela outra pessoa, e ouvi-la chorar por algo que sequer era verdade era muito difícil. Foi então que Felipe olhou para uma parede, puxou o ar, criou coragem, e falou:
- Andressa, eu sou gay.
Ela parou de chorar no mesmo instante. Ed olhou-o, muito supreso. Ele olhou de volta para Ed, de relance, e voltou a encarar a parede, enquanto sua cabeça girava e reverberava, sentindo uma grande felicidade, um alívio estarrecedor, e muito, muito medo. Tudo isso durou apenas um segundo, que foi o tempo que Andressa levou para se recompôr e então, claro, soltar um grande "O QUÊ???". Felipe sorriu. Agora era tudo muito mais fácil. Sentou-se novamente no meio fio, ao lado de Ed, e respondeu a tudo o que ela perguntou. Disse que ela era uma menina muito íntegra, que tinha várias qualidades, que era sim atraente - e nada disso era mentira -, mas que essa é o tipo de coisa que não acontece, pois simplesmente é. Depois disse que queria vê-la, no dia seguinte, abraçá-la e pedir as devidas desculpas pelo sofrimento que a fizera ter com aquela mentira sobre traição, que queria olhar nos olhos dela e contar o que sentia, que queria dar a ela a chance de compreendê-lo, para que ela pudesse aceitar ou não, e também decidir como seria a relação dos dois dali para frente. Disse, então, que estava na festa de aniversário do avô, que não via a hora de explicar tudo a ela, mas que por hora era melhor que ela absorvesse a informação e pensasse a respeito, que ambos precisavam de tempo antes de esclarecerem tudo o que havia para ser esclarecido, e que ainda a amava muito, porém de uma forma diferente da que ela imaginava. Estabeleceram horário e local, despediram-se e então desligaram o celular.
Felipe colocou o telefone no bolso ainda olhando para a frente, um pouco inseguro sobre o que estaria reservado na feição do primo, e então, vagarosamente, virou-se para encará-lo. Ed estava, a princípio, muito surpreso. Depois fez-se grave. Então ele abriu um grande sorriso, deu-lhe um olhar de cumplicidade e disse:
- Mas por que diabos tu nunca me falou isso???
E abraçou Felipe em um gesto de amizade. Quem estava perplexo, afinal, era Felipe. De tudo o que ele imaginou como reação depois de confessar sua homossexualidade, um sorriso e um abraço era o que ele menos esperava. Felipe expôs, então, tal pensamento, e Ed gargalhou em resposta.
- Felipe, isso não significa nada meu velho. O primeiro passo para destronar o preconceito da cultura da gente é não ser preconceituoso contigo mesmo, mano. Como tu tem coragem de ter vergonha de ser gay? E como é que tu acha que alguém vai olhar pra tua homossexualidade sem julgar se tu mesmo tem vergonha disso? Felipe, brother, pessoas são só pessoas, independente do sexo ou da sexualidade. Beijar homem, beijar mulher, foder homem ou foder mulher não muda teu caráter, não muda quem você é. Eu, na verdade, acho que estar aberto a se relacionar com pessoas - homens e mulheres - te deixa mais disponível a conhecer gente que possa te ensinar algo sobre essa vida, e é por isso que eu não me limito com isso. E tu quer saber? Nada é assim tão sério quando a gente sabe que não é tão sério. Para de achar que ser diferente é grave, só aí é que tu vai conseguir sentir prazer em não ser robô.
Felipe olhava-o boquiaberto - Ed definitivamente ganhara um novo discípulo para sua filosofia informal. As palavras de Edmundo haviam tocado-o muito fundo. Foram tudo o que ele sempre sussurrara à própria consciência, mas nunca teve a coragem de ouvir. Finalmente, vendo alguém assim tão nobre e tão completo, e ao mesmo tempo tão simples, Felipe sentiu-se capaz de fazer aquilo que sempre quisera: deu a Ed o seu primeiro beijo de verdade, o primeiro sincero, o primeiro que ele realmente quis dar, ao qual Ed correspondeu na mais completa harmonia - e beijo nenhum poderia ter sido mais lindo.

--- Fim ---

Um papel que achei no chão

Queria começar dizendo que é bem mais fácil quando você é bonita. Não digo apenas pelo meu emprego de entregar flyers no semáforo, mas por tudo. Ser bonita facilita a vida: você pode cortar fila em casos de extrema urgência, respondem com mais vontade quando você pede informações na rua, conseguir favores torna-se mais fácil e as pessoas se aproximam com mais frequência. Não dá pra negar que o mundo é mais simpático com quem é bonito. E eu sou bem feia.
O que existe no interior de cada um é o mais importante, mas não se finjam inocentes: as aparências são essenciais sim e todos nós somos primeiramente julgados por elas. Mesmo porque é o interior, e rápido como as pessoas olham umas pras outras hoje em dia - afinal, existe gente demais -, ninguém faz muito mais que ver superficialmente a superfície. E não foi pleonasmo.
Quanto a escola, preciso desabafar, a escola é o inferno para quem não nasceu bonito. Os apelidinhos e o tal do bullying eu não vou nem me preocupar em descrever porque eu acredito que todos que já passaram pela escola - feios ou não - sabem exatamente do que se trata. Mas alguns detalhes somente nós, feios, sabemos de fato. A desconfiança dos professores, que secretamente acham-nos sempre mais plausíveis de culpa pelas taxinhas na cadeira ou qualquer ato que o valha. A chacota do sexo oposto, sempre pronto para humilhar nossos anseios. O espelho do banheiro feminino. O julgamento cruel e escancarado de todos para tudo o que você faz ou diz. As comparações...
E então o feio cresce, sai fora da escola, arruma um emprego e acha que tudo vai melhorar - mas é óbvio que seus chefes continuaram julgando-o, e as pessoas continuaram negando-se a pegar seus folhetos, e perder-se em um bairro nobre será sempre um grande problema.
Nós feios fomos fadados à vergonha, a vivermos escondidos e a passarmos ligeiros como animais, fomos rebaixados em termos existenciais, e temos que aceitar diariamente o nosso legado. Você, bonitinho, pode achar que é exagero, mas eu digo que não é. Por nossa desgraça existencial não ser assim tão explícita, quem não partilha do sentimento tende a achar que estamos mentindo. O ponto é que nada disso é perceptível exceto para aqueles que o sentem por experiência própria. É impossível explicar corretamente um preconceito que o interlocutor nunca sofreu. A causa do nosso sofrimento não é visível, mas ainda assim é concretamente sensível e sofrível e enorme para os que estão sob seu prisma de incidência.
Mas, acreditem ou não no suplício de ser feio, não é sobre isso que quero tratar por aqui. Quero falar sobre preconceito. Eu concluí o ensino médio, tenho e hoje dezenove anos, trabalho como estagiaria em uma pequena firma e estou matriculada em um curso profissionalizante. Entregar flyers é um trabalho extra para financiar um carro. Acontece que a obsessão humana pelas aparências já me fechou muitas portas, e eu não vou manter isso no anonimato. Empregos, relacionamentos, amizades, sucesso. Porque ninguém quer que alguém feio represente algo grande e importante, como ser oradora da turma, e muito menos se esse algo envolve dinheiro, no caso de uma empresa. Qual parte de ser gorda invalida-me para ser secretária? O mundo está ficando cego tamanha a importância que guardam ao âmbito visual, pois a visão a qual me refiro é aquela que absorve o sentido do quadro, e não apenas a fotografia. Eu não tenho o arquétipo propagado pela moda, mas minha fisiologia e meu espírito são iguais aos de todo mundo, e eu desejo e choro e sorrio e sonho e sinto tanto quanto qualquer um.
Semana passada eu estava entregando os panfletos quando cheguei em um palio cinza. Como eu estava andando entre as duas filas, entreguei-o para uma garotinha que tinha lá seus seis anos e estava ilicitamente no banco do acompanhante, de vidro escancarado, provavelmente divertindo-se a valer com o vento e a paisagem. Quando eu entreguei o papel, ela me olhou e sorriu com a maior sinceridade. Acho que ela ainda não sabia o que se convencionou que é feio, por isso foi capaz de me olhar nos olhos e sorrir com espontaneidade. E, sabem?, aquilo me motivou. Afinal, eu não seria feia se ninguém tivesse imposto um padrão para isso. E não existe um padrão além desse inventado. Se uma criança que ainda não aprendeu-o pôde olhar-me sem dó e sem julgamentos, então talvez quando as pessoas conseguirem desaprender as regras que separam beleza e feiúra, elas possam olhar-se como a garota do palio cinza.
...Mas não é uma tarefa simples.
Acontece que, depois daquele dia, eu decidi que vou ao menos tentar fazer algo a respeito. E foi por isso que escrevi esse flyer, que você está lendo. Encontrei nisso uma forma de ativismo ideólogico e não vou abandoná-lo, independente de quantas pessoas amassem e lancem ao chão perante os meus olhos esse texto que escrevi com sentimento e imprimi com meu dinheiro - vou continuar distribuindo-os em nome do bem estar que senti quando aquela menina me olhou. Porque eu desejo que todos os feios sejam olhados daquela forma um dia. E também os deficientes, os errantes e os viciados. Eu desejo um mundo em que as pessoas se olhem sem subliminaridades. Eu anseio por um mundo sem preconceito, e por isso vou continuar imprimindo e entregando panfletos.
Fico muito feliz por você ter lido esse texto no lugar de tê-lo amassado e jogado ao chão ou ignorado no tapete do carro; já que ele é extenso e não tem joguetes publicitários para prender sua atenção: acontece que normalmente as mensagens mais importantes não vêm em tinta fluorescente ou letra tamanho 36... Repasse a mensagem em nome de um mundo melhor.

terça-feira

Nossas páginas

"People are just people
They shouldn't make you nervous
People are just people like you..."
(Regina Spektor, Ghost Of Corporate Future)


Sempre ouvi dizer que todos somos legais até a segunda página. Estou começando a discordar. Afinal, todo mundo é legal exatamente depois da segunda página - na máscara somos todos clichés. É inegável que nas primeiras conversas com alguém estejamos todos encenando um papel, fingindo sermos o que melhor nos aprece, ou mostrando a nossa face mais trabalhada. E essa parte da relação é tediosa. Mais tarde, quando tirados os saltos e as maquiagens, é que a pessoa começa a mostrar quem ela realmente é. Somente lá pela quarta página é que podemos descobrir-lhe as reais qualidades e defeitos, sentir algo em relação a ela e ter um esboço de opinião a respeito. Antes disso, é tudo raso e fútil.
Mesmo porque julgar a pessoa até a segunda página é a maior injustiça. E se a casca dela não condiz com a sua? Isso não deveria significar que vocês não se darão bem. Quem já foi forçado a conviver com alguém cuja máscara lhe fosse repulsiva talvez concorde: depois da segunda página, quando não há mais tribo, classe social, time ou partido político, todos nós somos muito parecidos e capazes de afinidades. As primeiras páginas só servem para seccionar as pessoas, algo que eu acho extremamente inútil e triste. A diversidade da mentalidade humana é o que mais me encanta, não consigo concordar com a ideia de fugirmos de pensadores à priori diferentes.
Mas não posso fechar meus olhos ao fato de que estar rodeado por semelhantes gera conforto e é essencial, já que do contrário nos sentimos deslocados e frágeis e isso é muito desagradável. Insisto, porém, em que não passa de uma questão de ponto de vista: só iremos nos sentir estranhos longe de máscaras com as quais nos identificamos enquanto classificarmos as pessoas por tais máscaras. Uma vez entendido que essa casca é dispensável e estando-se decidido a olhar mais fundo, nós podemos compreender e sermos compreendidos por qualquer um. Sentirmo-nos deslocados é um erro da cultura imposta quando entendemos que o ser humano é nada além de um ser humano, em qualquer lugar. Aceitar e ser aceito só depende de lermos o trecho inteiro.

domingo

Lugar comum

- Mas você suportaria sustentar vadios com o seu próprio trabalho?
- Então, mas a gente já faz isso. Só que eles chamam-se políticos. E outra, qual o seu objetivo por aqui? Acumular riqueza, bens e luxos, ou estar bem e ser o melhor que puder? Porque, se for o segundo - e deveria ser o segundo - você talvez devesse olhar melhor ao seu redor. Existem pessoas morrendo de fome, pessoas morrendo de frio - existências que valem exatamente tanto quanto a sua. Você suportaria ser indiferente a isso?
- Augusto, seu discurso socialista me cansa. Eu não devo ter qualquer empatia com a desgraça socioeconômica, essa é a magia de um sistema autossuficiente.
- Um sistema que cuida de si mesmo, enquanto esmaga o povo. E vocês concordam.
- Não acredito que você consiga acreditar em uma colocação tão pueril com seus quarenta e dois anos de idade. Será que você nunca vai amadurecer e entender que teoria e prática divergem? Você soa como um adolescente falando, Augusto.
- E você, Paulo, soa exatamente como um adulto. Sem sonhos, sem pretensões que não sejam graficamente prováveis, pragmático e insensível.
- E qual a vantagem em ser entusiasta? Qual o ponto em viver entre ilusões, com desejos impossíveis e com crenças equivocadas? Qual o sentido de tudo isso, depois que se olha pelo lado de fora uma vez?
- Eu não sei, Paulo. Mas responda-me você: qual é a vantagem do racionalismo e do decadentismo sob os quais você enxerga sua vida?
- Eles não são vagos ou fugidios. Seu sermão de altruísmo e empatia é quase místico. Ele não tem bases reais, foi todo fundado em esperanças e suposições. Não é um discurso seguro. Pode sim acontecer, mas eu posso citar-lhe vários exemplos - se não empíricos, ao menos embasados - de falência para o socialismo. E mesmo para a bondade humana. Não me ataque com termos pejorativos como pragmatismo ou niilismo. Trata-se de lógica. Uma lógica que demanda maturidade para ser atingida. Uma lógica que idealistas incorrigíveis, adolescentes de quarenta e dois anos, não podem compreender.
- Proposta alguma funcionará enquanto a maior parte da população continuar cega pelos discursos embasados do capitalismo. E sabe o que mais me chateia? As bases de que esses discursos se valem. São todos construídos sobre a natureza má do homem. O homem é egoísta, o homem é avarento, o homem é perverso; e todos aceitam isso prontamente. Como que "sim, nós somos sim", e ao admitir isso tivessem motivo para continuar sendo. Será que nenhum de vocês, adultos lógicos e senhores de si, é capaz de perceber o quão errado esse discurso é? Será que nenhum de vocês pode sentir que nós devemos mudar?
- Eu vejo isso como um teatro darwinista: somos todos animais em busca da própria sobrevivência e precisamos adaptarmo-nos ao meio (no caso, ao sistema), ao invés de tentarmos mudá-lo. A natureza prevalece. Você é apenas uma mutação inútil. Mais um dos que tentarão mudar o mundo para cair e ser esquecido mesmo pelos livros de história. E sabe por quê? Porque o seu gene reacionário não se encaixa no nosso contexto.
- O seu cientificismo é só o que você consegue ver. E você nem mesmo foi autor deste. É assim que eu vejo tudo isso. Eu e meus semelhantes somos sim adolescentes em ideário, mas vocês, embora adultos em comportamento, são crianças coagidas pela mídia. Vocês acreditam em tudo que uma revista especializada coloca. Vocês se ajoelham para a ciência sem questionar, pois a grande maioria não tem bases - sim, bases - para questionar. Vocês se ajoelham às faces da ciência assim como os medievais se ajoelhavam nas igrejas. E são tão cegos que aniquilam, com as próprias mãos e palavras, os dissidentes da ordem que os domina. Você está iludido, Paulo.
- Caralho, isso é o que eu mais odeio sobre socialistas. A saliva branca que espuma de suas bocas quando usam palavras bonitas em um discurso de luta de classes. Um bando de graduados cheios de morais e frustrados com o mercado de trabalho. Fracassados imaturos, que em vez de trabalhar nos próprios atributos para conseguir um emprego melhor, saem por aí mentindo idealismos sobre um mundo perfeito. Então somos todos crianças perante o pai governo. A diferença é que os mais espertos de nós sabem o que fazer para agradar ao papai e conseguir dele o que deseja, e outros choram birrentos no tapete da sala. Quer mesmo ser algo de útil, Augusto? Então cresça fronte ao governo, torne-se independente dele no lugar de reclamar assistencialismo, seja um anarquista. Continuaria sendo absolutamente inútil e você ainda seria frustrado, mas ao menos mereceria respeito.
- Ótimo. Um adulador que respeita a rebeldia e se acha digno de criticar o comportamento mais lógico para os filhos de um pai indiferente, o choro reivindicativo; brilhante, Paulo, simplesmente brilhante.
- Pois não, chame-me hipócrita agora. É a pejorativa esquerdista clássica. Lembra do meu niilismo e pragmatismo? É. Eles casam bem com hipocrisia. Corroa-se, eu até gosto. E não é por que isso me faz mais apto a sobreviver no sistema vigente. É algo sobre o meu caráter. Porque eu realmente sou egoísta, avarento e perverso, mas não é esse o meu "motivo", a minha inspiração, para continuar sendo. Não. Eu continuo sendo porque eu gosto. E eu não estou dizendo isso somente para irritá-lo - embora seu rosto avermelhando-se esteja-me sendo deleitoso de olhar -, estou dizendo tudo isso por que é a mais pura verdade. Augusto, eu conheço você há mais de quinze anos e me sinto à vontade para confessar, eu gosto e eu faço de propósito, eu sou assim e eu não sinto nenhum impulso autônomo para mudar. O que eu finjo é pela convivência social, mas meus sentimentos podem divergir um tanto. E eu não acho que eu tenha qualquer disfunção cerebral, nem que eu seja o único a sentir tudo isso. Transforme-me em um socialista, pois, em um filantropo convicto - e sincero -, e eu calo-me para sempre. Contudo, até mesmo você sabe que é impossível.

E Augusto ficou em silêncio. As luzes pareceram abaixar, onde quer que eles estivessem; a musica soou distante e fraca. Paulo reverberava sozinho, a boca espumante por seu próprio discurso, copiosamente enfeitado por palavras bonitas e silogismos também comprados, embora de filósofos menos populares, a pensar-se vitorioso daquele nada. Eles não eram vencedores ou fracassados, e eles não sabiam o que estavam dizendo.

- Você disse anarquista, sim?
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sexta-feira

"rambling man"


a gente morre o tempo todo. a gente vive morrendo, de novo e de novo. falamos coisas que não fazem sentido, com ou sem pretensão de parecer quaisquer coisas. agimos sem coerência, pra arrependermo-nos mais tarde. ou não. às vezes não ligamos a mínima. se eu me preocupo com a gramática e falo palavrões, é porque e apenas porque eu vejo que sempre erro na gramática, e ainda torço o nariz para alguns verbetes. essa romantização do ser e do não ser não faz o menor sentido, mas não deixa de ser tocante. o mesmo para a idealização do escrever, quando escrever é vazio. às vezes é esse vácuo mesmo que idealizam. a gente adora idealizar o ignóbil. no fundo a gente não faz ideia de o que pensa. e de o que somos. huxley me agradou hoje pela manhã, através da obra de um personagem. eu sempre reclamei não ter tido nenhum motivo maior, grandiloquente ou traumático que fosse, para moldar-me a personalidade - escolhi a dedo tudo o que fingi ser até agora. anthony, o personagem, colocou que a única possibilidade sincera de personalidade é aquela que não se é moldada pelo meio. aquela que não se define e que não tem razão para ser, pois somente esta pode vir do nosso verdadeiro âmago, e não de um desenhado pelas circunstâncias. ou talvez anthony não pensasse nada disso e o meu cérebro tenha deixado-se divagar demasiado. mas, independente disso, ele logo se embasbaca em sua própria desgraça de caráter romântico e justifica as conclusões como fugas generalizadoras vazias de significados, as quais ele apenas buscou por consolo fraco. não vou desmenti-lo, pois então ele explica que apenas os bárbaros e ignorantes têm uma personalidade, pois nada sabem de si, ou em que podem transformar-se, e a partir dessa linha deixa de felicitar-me para cair de cara em uma explicação surda. existir é tão vazio. ser. a gente não é. a gente nem sabe o que fazer para começar a ser. personalidades, limites, obras... não passam das fugas generalizadoras do anthony. do huxley. suas e minhas. e tanto faz ser romântico, intelectual, claro ou caótico - e ninguém está sugerindo respectividade entre essas linhas -, o homem "não-é" do mesmo jeito. e se eu perdi a clareza, não quer dizer que já não tenha um sentido. ao menos não obrigatoriamente. que seja. o homem não-é. o homem não-sabe. mas ele quer... só que, bem ou mal, eu estou morrendo agora mesmo.

oh naive little me, asking what things you have seen, and you're vulnerable in you head
you'll scream and you'll wail 'till you're dead
creatures veiled by night, fallowing things that aren't right,
and they are tired and they need to be led
but you'll scream and wail 'till you're dead
[...]
but if i sit here and weep, i'll be blown over by the slightest of breeze, and the weak need to be led
and the tender are carried to their bed, and it's a pale and cold affair, and i'll be dammed if i'll be found there
[...]
and it's hard to accept yourself as someone you don't desire
as someone you don't want to be
http://www.youtube.com/watch?v=JvwWzcLfH-k

quarta-feira

Sobre os bits de informação

A literatura me tortura. Reler o conceito de romantismo até o fim foi quase masoquista. Da torre de Marfim, escapista, melancólica. O pior foi ler sentimentalismo diretamente associado - quase que sinônimos - a egocentrismo. E a conteúdos rasos. Ah. Depois os conceptismos, cultismos, rebuscamentos confusos e quiasmos toscos, seguidos das antíteses incoerentes (mas que caiam bem na métrica). Também vi os bucolismos desprovidos de quaisquer significados, novamente prezando-se as formas e as regras. Fiquei frustrada (e envergonhada) pelo condoreirismo, ainda egocêntrico e sentimental. Expressões grotescas de todas as épocas.

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O estudo das produções humanas é extremamente útil à formação do caráter, pois retratam muitas experiências que todos nós estamos fadados a viver um dia. A melhor parte é que vemo-las por lentes impessoais, pelas quais conseguimos julgar diferentes quadros de forma equilibrada e sincera, para só depois percebermos o quão próximo de nós mesmos é a tal característica recém-julgada. Eu revirei os olhos e esbocei críticas a muitas das manifestações artísticas de diferentes períodos da historia para só depois enxergar que eram exatamente as minhas debilidades que eu estava satirizando. Foi desagradável, já que tive plena consciência de que aqueles comentários jocosos eram realmente a minha opinião sobre o que eu estava lendo ou vendo, e que eu realmente repudiava muitos dos meus traços de personalidade. É frutífero estudar as criações humanas por serem elas fotografias de nós todos, julgar tais é uma maneira de ver a si mesmo como se do lado de fora.


Acho engraçado como o que eu ouço/leio/vejo/sinto frequentemente se reproduz mais tarde em outras circunstancias, e meu cérebro as une como que por impulso, a formular conclusões, gracejos ou perguntas que me surgem inesperadas. Vi algo sobre assimilarmos conscientemente menos da metade de todas as informações que o nosso cerébro percebe a cada instante, sendo que o restante fica no inconsciente sem que tenhamos a percepção disso. Acho que daí surgem tantas analogias e combinações, e destas as criações intelectuais, factuais ou materiais. Por isso o mundo que nos cerca tem ampla interferência nessas criações, mas, ao mesmo tempo, a máquina humana é basicamente a mesma desde o primeiro milênio, o que influi na grande proximidade dos sentimentos vividos nesta e naquela época.


As circunstâncias alteram-se a cada momento, mas, afinal, nossas fraquezas e habilidades são em suma parecidas - o que me convence de que não é absurdo termos ainda as angustias que tinham os navegadores do mundo plano e de monstros marinhos. Vi na humanidade a qual tive acesso ignorâncias, fragilidades e soluções falhas que são integralmente comuns a mim. Encontrei defeitos e a principio me envergonhei por partilha-los. Contudo, odia-los e despreza-los, além de autodestrutivo, é inútil à resolução dos meus semelhantes defeitos. Pude ver que entender o processo histórico nos mais diversos pontos é essencial a cada um de nós, é a única forma de saber onde realmente pecamos, pois é o único espelho no qual podemos acreditar. Se a crítica vier de nós mesmos e for, à priori, mascarada, será intuitivo aceitá-la e possível segui-la. Ademais, a humanidade ainda tem qualidades a serem descobertas.

domingo

Ego

Nós não somos nada além de uma coincidência da evolução. A espécie humana não tem nada de especial senão o fato de ser a nossa. Tudo isso é invenção. O nosso deus, a nossa moral, cada valor e cada significado desde o mais simples, está na nossa cabeça e só.
O mundo material não faz sentido. Nenhum dos meus desejos fazem.

...Só que eu cansei de ver desse jeito.
Estou aqui por motivo nenhum e com finalidade nenhuma. Isto é, nenhuma além de perpetuar a espécie, mas já está claro que perpetuar a espécie é tão inútil quanto eu. Não posso continuar existindo com essa concepção, então optei por ignorantemente negá-la.
Idependente dos motivos, a vida existe e eu estou aqui. Então tudo bem, vou viver até quando conseguir e vou estudar coisas que me interessam, mas sem me culpar por ler sobre criações mundanas que nada valem. Talvez um dia eu até esbarre nos conceitos que me assombram; mas nunca mais vou deixar que eles me governem.
Sou nova e inconsequente, sei pouco de mim; contudo posso dizer, alto e claro, sem medo da pretensão, que entendi o princípio da vida: ela não é poética ou apotética como iludiam-nos os filósofos. A vida é um acaso, e as razões do mundo não estão em nenhum lugar fora da consciência humana.
Não preciso mais existir nesse erro. Vou continuar aqui, e agora livre por saber que razão nenhuma me coage.
O engraçado é que eu ainda não estou feliz...