"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

Mostrando postagens com marcador lágrimas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador lágrimas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira

Tropeços


Eu sinto os sonhos presos em mim. Eu sinto o cheiro das suas mentiras a me sufocar. Falseio com o peso das palavras não ditas... Será que eu ainda vou cair? Hei de cair, todos eles parecem saber. Me observam ansiosos, me vigiam sem me guardar. Quem estenderá a mão a me levantar? Vejo pessoas passando, mas não vejo brilho em seus olhos. Eles fingem muito bem, mas não parecem dispostos a me ajudar. Ouço um sino atordoante, é o sinal de largada... e a corrida começou. Apostando para ver quem chega mais rápido ao fim, ao pódio do eu te disse. Jogando no nada sua ultima gota de suor, esbaforidos com a pressa de saber. Eles vão chegar, cedo ou tarde, e logo a corrida acaba. Vidas gastas em vão, enquanto as palavras pesam mais e mais... e o relógio avança, ele vai me engolir. Corro do tempo, corro dos sonhos, corro da corrida e corro de mim. Duas estradas, por qual seguir? Nenhuma é bela e nenhuma é escura, são só caminhos, caminhos quaisquer. O tempo se aproxima, parece faminto. O extinto de sobrevivência me joga sobre o mato, sem estrada e sem caminho. A folhagem parece dura, mais dura que o chão e mais dura que os erros. Um tapa na cara que soa de medo. Me levanto bem rápido, sem mão, sem nada. Olho pro céu e dou um basta em tudo. O tempo para. Os sonhos esperam. As mentiras ficaram para trás. As palavras me encaram do chão. A corrida acabou. Leve mas não livre, viro meu corpo e caminho à rumo oposto. O sol brilha quente e as flores cheiram a dor. Meu coração se esfria enquanto meus olhos esquecem do amor.

sábado

Eu vou acabar ficando louca.


Preciso de qualquer coisa real, se é que ainda existe alguma. Preciso sair deste tempo, deste país. Preciso de cultura, preciso de sabedoria. Preciso de um amor, de uma aventura. Preciso de uma vida, para revesar meus pensamentos. Preciso saber que existe algo além da minha ficção insensata, surreal. Preciso entender como eu sou, pra explicar à mim mesma quem pretendo ser. Percebo a loucura logo ali, e vejo a sátira de todo esse quadro supérfluo-adolescente em cada esquina. Preciso acreditar, mas plenamente. Preciso decidir, entre a frustração ou a alegria superficial. Preciso que vejam, e que acreditem também. Preciso saber, preciso muito saber. Preciso dá-los o que entender, mas antes preciso entender o que me deram; me deram muito. Preciso ganhar, ser melhor e maior. Preciso matar o ego de mim, preciso me deixar morrer. Preciso também da certeza de que vou renascer, preciso dela enquanto viver. Preciso da beleza antiga, aquela que me descreveram tão bela; preciso da beleza, qualquer que seja ela. Preciso dela, preciso agora; mas a preciso real, como nada neste mundo. Preciso daquela velha ficção amarelada. Preciso existir, hoje e um dia. Um dia longe daquele passado amarelo, e desse presente azul brilhante.

segunda-feira

Exaustão.


Nada está bom e nada está certo, e eu só queria não precisar consertar tudo com as minhas próprias mãos...

-


Cansei de ser compreensiva. Será que dá pra alguém me compreender desta vez?

domingo

...

Eu quero status e essência. Eu quero tradição e mudança. Eu quero amor e solidão. Eu quero certeza.

sábado

Novo mundo.


Ela estava parada, com todo um mundo a sua frente. Sentou-se na ponta do precipicio e observou com a calma de um pai.

Pensou no velho mundo que se esvaía de cada folha que ela conseguia ver dali. Pensou nas novas modas e manias que se impregnavam nos vãos das rochas, e pensou nos amigos que já teve.

Carregada pela nostalgia, ela reviu cada sorriso e sentiu novamente os melhores abraços; e então relembrou a bruscalidade com que tudo acabou.

Um dia fora tudo tão limpo, tão harmônico, tão inabalável. Ela chorou por não ter visto este dia. Como é que conseguimos desmoralizar tanto nossa própria honra?

Embargada pela culpa e pela saudade, ela jogou uma pequena pedra para além do nada do abismo. Beijos sem qualquer emoção. Palavras sem qualquer fundo de verdade. Consolos superficiais. Ideais baratos. Não não, não é neste mundo que ela quer viver.

Ela queria tanto ser diferente. Sentir de verdade, ver de verdade, ser de verdade. Mas no novo mundo não havia espaço pra nada disso... Olhou pra frente novamente e lembrou-se de que o motorista ainda estava ao seu lado, segurando suas compras e esperando para levá-la de volta ao hotel, quando ouviu sua voz pela primeira vez:

- A cidade não para de crescer. O que diabos estão esperando para cortar estas arvores velhas e construir um hotel descente por aqui?

E com a inexpressividade de um recém nascido, Miranda pegou as sacolas e entrou na Mercedes parada a poucos metros dali.

sexta-feira

Tempo.


Flores murcham e folhas caem, mas o verão sempre volta.

terça-feira

Cansei.

Talvez eu não seja assim tão ingênua.

Colápso.


Eu não posso fazer alarme. Eu não posso transparecer. Eu não posso ser fraca. Eu não posso querer antenção. Eu não posso me abrir demais. Eu não posso confiar cegamente. Eu não posso machucar ninguém. Eu não posso ser machucada. Eu não posso dizer o que eu penso. Eu não posso pensar muita coisa. Eu não posso pensar. Eu não posso ser quem eu quero. Eu não posso ser como eu quero. Eu não posso esperar nada em troca. Eu não posso esperar nada. Eu não posso mentir. Eu não posso ser sincera. Eu não posso esquecer. Eu não posso lembrar. Eu não posso gostar. Eu não posso odiar. Eu não posso querer. Eu também não posso sentir.

-

Dar um tapa e ganhar um beijo arde mais que três tapas.

sexta-feira

ha ha ha ha ha


Só agora eu percebi...

Que eu posso ser a minha melhor amiga,
Que o que os outros pensam não é a verdade,
Que o que eu sinto nem sempre pode ser dito em voz alta,
Que comprar briga é estupidez,
Que vaidade é um peso,
Que acreditar basta,
Que amor próprio é a alma da felicidade,
Que rir sozinha faz muito bem,
Que querer demais enlouquece,
Que gestos mudos gritam alto,
Que se focar no futuro não é tão chato,
Que relacionamentos são de mentira,
Que precisar e não ter é a pior tortura,
Que dor ensina e musica cura,
Que nem todos querem ver como eu vejo,
Que o clímax fica nos detalhes,
Que desconhecer o amor não faz dele menos real,
Que você nunca foi quem eu pensei.
-

quinta-feira

-

chega de tentar convencer. chega de tentar entender. chega de exibicionismo.

domingo

Trégua.


Matei um mosquito e me senti culpada. O ceu sujo de nuvens carregadas pareceu sombrio. As garotas gordas me encantaram em suas mini saias. Concelhos e confissões quebraram minha guarda. A insônia chegou com força, e trouxe reflexões atrazadas. A ética me obrigou a maquiar muitas conclusões. Me enganei e gostei do sabor. Assiti a filmes suficientes para ofuscar minha realidade. E depois de polida, ela pareceu um teatro monótono. Em alguma parte daquele inverno eu esqueci de ser dócil. No verão seguinte eu já nem lembrava dos cheiros. Cresci, ou fingi que cresci, e passei a ver tudo em preto e branco. Tentei então me rebelar. Não consegui. Me calei. Aí tentei mudar. Foi dificil. Tentei mais. O sol roubou lágrimas dos meus olhos. Compromissos me roubaram a sanidade. Tentei vingança. Falhei. Rostos sorriram ao meu redor. Rostos se fecharam ao meu redor. Rostos não se moveram ao meu redor. Muitos rostos estiveram ao meu redor. Por todos os lados, com todas as mascaras. Olhei de volta. Sorri de volta. Chorei de volta. Julguei de volta. E por fim, cansei de volta. Agora o tempo está lindo, e eu quase ouço um riacho chiar de longe. Acho que mereço um descanço.

sábado

Culpa, pena e tempo.


Isso a persegue. Isso a derruba. Todos os olhares cautelosos e os gestos amorosos, eles a cegam. Dó é a culpa mais dolorosa. E amor, a mais ardente. A ardósia vai continuar intacta, e a rosa vai continuar morrendo, ambas pegando pó e empalidecendo com o tédio. Tantas noites de chuva ainda hão de lavar os sonhos, enquanto tantas rajadas de vento ainda hão de molhar as janelas. E tantas vezes você ainda vai encarar as estrelas e se perguntar o porque de tantas oscilações de sabor. Mas quem sabe talvez, depois de todas essas noites, e depois de todos estes hormonios, ela não se molhe na chuva e não se seque ao vento, e com a cara virada pro brilho nude das estrelas que lhe juraram tantas coisas, ela não se permita chorar? E, meu amigo, não se esqueça, quando este dia chegar, permaneça na cama. Ouça os soluços e os engasgos molhados. Despiste as mentiras que tentarem aparecer. Sinta o calor que virá quando acabar. E se acabar, nunca mais a console.

segunda-feira

Importancia.

Quando tudo parece sem sentido, paramos pra refletir.

E ai vemos a desimportancia das coisas.
E ai notamos que refletir é desimportante.
E ai tudo parece vazio.
E ai vemos que tudo é, de fato, vazio.
E ai nos propomos a viver sem pensar.
E ai notamos que viver é pensar.
E ai tudo fica sem sentido, mais uma vez.

domingo

Cansaço austero.

Me sinto pesada, suja e errada. Como uma alma pura que nunca fez caridade, como um potencial pisado e chutado. Tanta coisa que eu poderia fazer. Tanta coisa que eu poderia ser. Inúmeros futuros na prateleira, inúmeras ações esboçadas nos projetos. Necessidades que de repente nem são mais necessárias. Supérfluos sem os quais eu não seria nada. Divindades que eu ignoro, idiotices que eu idolatro... Crenças, opiniões revolucionarias, então porque ainda sinto este vazio de vontade própria? Crucificando o ego alheio mas sempre cuidando das aparências. Fingindo que não preciso de ninguém e esperando desesperadamente que alguém precise de mim. Olho pra minha historia... tão pequena. Anos e anos de catança, porque a mochila ainda está tão leve? Eu quero gritar correr e quebrar tudo pelo caminho. Planos e mais planos. Num segundo parece que eu consegui tudo o que sempre quis, e então eu já não quero mais nada daquilo. Me sinto miserável. Então me inspiro em qualquer coisa e proponho zilhões de mudanças. Ai penso que não sou capaz. Olho pro nada e encontro novos horizontes, então anoitece e eu os perco de vista. Eu penso tanto que acabo sem saber o que pensar, e eu quero tanto que acabo sem saber o que querer. E sem saber eu só acabo. E acabo sem saber...

sexta-feira

Vencida.


Ele olhou para o chão. O silêncio reinou. Ambos sabiam que nada mais poderia ser feito ali. Ela encarou a porta enquanto a furia e a melancolia brigavam dentro de si. Ele continuava errando. Fraco como sempre, não suportou olhar para suas perdas e assumir as consequências. Fraco como sempre, tentou maquiar suas burradas com outra mentira. Eu te amo. Ela o analizou e seus olhos brilharam. Só durou um segundo. Então a verdade caiu sobre seus ombros. Aquilo doeu, mais que um tapa e mais que sair andando rumo à porta. Foi a dor de saber que ele não mudaria. A dor de saber que era o fim. O fim de algo que nunca deveria ter começado.

(o fim que talvez ela não fosse forte o suficiente para deixar acontecer)

quarta-feira

Hierarquia das sensações.


Tristeza. Base da desgraça, vem, vai, volta, mas nunca parte. Depressão. Companheira da tristeza, vem, vai, volta, mas nunca muda. Sorriso. Mora longe da depressão, vem, vai, volta, mas nunca fica. Lágrima. Namorada do sorriso, vem, vai, volta, mas nunca espera. Paixão. Amante da lágrima, vem, vai, volta, mas nunca dura. Desejo. Pai da paixão, vem, vai, volta, mas nunca cede. Sofrimento. Fiel ao desejo, vem, vai, volta, mas nunca some. Dor. Filho do sofrimento, vem, vai, volta, mas nunca passa. Melancolia. Amigo da dor, vem, vai, volta, mas nunca acaba. Compaixão. Tutor da melancolia, vem, vai, volta, mas nunca reina.

Amor. Mãe de tudo, sempre vem, nunca vai, nunca volta. Domina tudo com jeito e calma.
-
Eu creio que sensações são minúsculos intervalos de espaço presos no tempo que não podem ser interpretadas ou percebidas, somente sentidos no mais profundo particular de cada um. O mundo crê que são descargas de energia que ativam certas áreas do cérebro. Em que você crê?