"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

quarta-feira

Preucupações: apologia ao estresse.

Acordando, dormindo, respirando, comendo, falando, vivendo, dia pós dia, século pós século, a população tem se procriado dentro dos padrões e o sistema continua a funcionar. Vez ou outra algo acontece, aquecimento global, término do petróleo, escassez da água, mas nada que mereça muita atenção além daquela falsa e desinteressada. E assim prosseguimos independente do que for, a seguir nosso caminho, a viver nosso destino e a gastar nosso futuro.

Não que haja algo de errado nisso tudo, afinal a vida é tão pequena… Não há tempo à perder para se interessar por qualquer outra coisa que não te afete instantaneamente, certo? Errado.

O que o seu vizinho fez ontem não te afeta. Com quem a beldade do terceiro ano transou também não. A idade com que a amiga da prima da sua colega do inglês abortou um filho muito menos. Suas atitudes te afetam. Suas escolhas também. Seus pensamentos mais ainda.

Pensamentos, por falar neles. Como doem, incomodam e estragam tudo sempre que possível. Na verdade quando é impossível eles também dão um jeitinho. A melhor palavra para defini-los: impertinentes. Ou seria incômodos? Intrometidos talvez. Que seja.

Às vezes eu queria ser um gato domestico: independente, porém com acesso a caricias sinceras e bajulações sempre que necessário, e claro, isento de problemas com relacionamentos e química quântica.

Será que ninguém percebe o tamanho desgaste emocional que se paga para se preocupar com algo? Decidi economizar o meu emocional, a menos que seja restritamente importante. Não me preocupo com mais nada que não resulte no fim do mundo ou na morte dos meus pais. Pelo menos em teoria.

Sobrepujando escalas.



Mamadeira, calmaria, brincadeira, alegria. Costumava ser tão simples, tão claro. Porque crescemos tão rápido? O fato é que crescemos, e é ai que nos deparamos com a mais persistente prova de resistência: a adolescência.

Sagaz, é vista com diferentes olhos no decorrer do tempo: trovoar de diversão para aqueles que a imaginam, chuviscar de sentimentos para aqueles que a recordam, mas somente quem a vive pode sentir sua desarmonia.

Construir majestosos castelos onde não existe nada além de alguns tijolos, destruir majestosos castelos por culpa de alguns tijolos, viver os mais intensos sentimentos, sentir a vida intensamente, desejar a independência com toda a alma, depender com toda a alma, superar responsabilidades inimagináveis, imaginar irresponsabilidades insuperáveis, chorar muito porque errou, errar muito porque chorou. De contradições se faz a adolescência, uma fase cercada de entusiasmos e decepções; e é fazendo escolhas sem a menor noção, desenhando o futuro com os olhos vendados e vivendo tudo em uma escala muito maior que a real que se passa por ela.

Mas as vezes eu paro e penso, porque não facilitar tudo? Porque não simplesmente ouvir os mais velhos? Porque não simplesmente acreditar quando lhe disserem que vai passar? Porque não simplesmente viver o que vier e não se consumir com o que talvez nem venha? Porque não amar só o necessário? Porque não sonhar só com o possível?

Talvez porque somos adolescentes, é não é assim que sabemos viver. Talvez porque não exista graça em protagonizar um teatro sem drama forçado.

- crianças se trancam no mundo dos sonhos.
- adolescentes se trancam no mundo dos dramas.
- eu me tranco no mundo das duvidas.
- em qual mundo você se tranca?



Hierarquia das sensações.


Tristeza. Base da desgraça, vem, vai, volta, mas nunca parte. Depressão. Companheira da tristeza, vem, vai, volta, mas nunca muda. Sorriso. Mora longe da depressão, vem, vai, volta, mas nunca fica. Lágrima. Namorada do sorriso, vem, vai, volta, mas nunca espera. Paixão. Amante da lágrima, vem, vai, volta, mas nunca dura. Desejo. Pai da paixão, vem, vai, volta, mas nunca cede. Sofrimento. Fiel ao desejo, vem, vai, volta, mas nunca some. Dor. Filho do sofrimento, vem, vai, volta, mas nunca passa. Melancolia. Amigo da dor, vem, vai, volta, mas nunca acaba. Compaixão. Tutor da melancolia, vem, vai, volta, mas nunca reina.

Amor. Mãe de tudo, sempre vem, nunca vai, nunca volta. Domina tudo com jeito e calma.
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Eu creio que sensações são minúsculos intervalos de espaço presos no tempo que não podem ser interpretadas ou percebidas, somente sentidos no mais profundo particular de cada um. O mundo crê que são descargas de energia que ativam certas áreas do cérebro. Em que você crê?

Mentiras cômodas, futilidade agradável.


Há não muitos minutos estava me sentindo miserável, por motivos aparte. Não conseguia ficar em um cômodo fechado comigo mesma sem me irritar, não conseguia ouvir nada sem querer gritar. Gritar para espantar meu mau humor, gritar para expressar meu desespero, gritar para concretizar minha loucura. Tal angustia me dominou, e por mais que eu de certo modo soubesse que era uma simples TPM, que em segundos eu estaria tão feliz quanto um dia de sol solto em uma campina verde, que eram somente hormônios descontrolados existindo um dia a mais rumo à dominação global, por mais que eu soubesse de tudo isso, eu precisava extravasar, precisava fazer alguma coisa antes que aquele grito fizesse um nó em minha garganta e me asfixiasse.

Então peguei minhas moedas e um dos livros de auto-ajuda que eu tanto critico e que minha mãe tanto preza, talvez eu estivesse precisando deles. Comprei na sorveteria mais próxima o maior milk shake à venda. Eu sei, soa fútil. Sim, eu sou fútil. É, também odeio isso. Não, nunca fiz nada para mudar.

Tendo em mãos a dupla perfeita para um dia de fossa, percebi que voltar para casa não era o que meu espírito precisava. Então fui até a praça publica local e me sentei sozinha, com meu sonho calórico e minha caixa de sabedoria barata, próxima da natureza pacifica das arvores plantadas graças à qualquer projeto que mascarasse o egoísmo social e cercada pelo irônico cheiro doce de mendigos desprivilegiados graças ao mesmo egoísmo social.

Muitos dos que passavam me olhavam com olhos críticos e intrigados, me provando mais uma vez que a sociedade se tornou tão excêntrica que é considerado muito mais comum andar com o olhar baixo e o passo rápido rumo a qualquer lugar dominado pelo consumismo que se sentar próximo aos próprios sentimentos e deixá-los dominar um momento qualquer. Me dói admitir que nesta sociedade excêntrica o comum é dado por certo.

O caso é que, muito oposto à idéia que minha estúpida futilidade juvenil havia me imposto, livros de auto-ajuda não são somente clichês quaisquer postos entre palavras para confortar pessoas deprimidas, na verdade hoje descobri que livros de auto-ajuda são de fato idéias propostas em momentos de paz e que não são formados por infelizes clichês que servem para confortar e sim de sabedorias particulares que servem para questionar clichês confortantes.

Esta é uma mentira cega que a futilidade do mundo me propôs e que eu aceitei prontamente. Em quantas outras mentiras disfarçadas temos acreditado comodamente?