"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley
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sábado
Reflexo
Sinto raiva do espelho. O reflexo me pega desprevenida, me assusta e me decepciona. E o impulso é julgar, sempre é julgar; por prazer, por maldade, por necessidade, por distração... Logo eu me coloco encurralada. Jogo no espelho a minha desaprovação, mas ele reflete. Me encara com os olhos frios, com a mesma boca torta por sinismo. Aumenta ainda mais a minha raiva. E a incompreensão. Quem é ela pra me julgar? O que ela pensa que é pra vir vomitar tamanho desprezo? As sobrancelhas arqueadas, a face sempre apática. Estou cansada do espelho. E dos cadernos, das coisas, das roupas. Há tempos que também estou cansada das palavras. Das noções vagas, dos planos falhos, de toda essa esperança. Odeio assistir ao noticiário. E a filmes que não entendo. Me forçam a engolir a covardia da vítima, os golpes mal dados, a manipulação da mídia, o roteiro vago e mal iterpretado, os clichês vazios... A minha realidade. E estou farta dela. Não aguento mais nenhuma colherada, gole, pedaço, alusão. Mas tudo bem, faz tempo que não assisto a filmes ou noticiários. E também faz dias que não penso no meu desconforto comigo. Estou aprendendo a deixar, esquecer, me distrair, calar. E também estou tentando aprender a usar certo a cedilha. Voltei a decorar o meu quarto, é um bom sinal. Quero muito colocar renda no teto, comprar um lustre de palha, tirar os adesivos de Wendy e de coraçõezinhos da porta, terminar de colar as frases em cima da cabeceira... E continuar folheando as revistas sobre profissões, terminar de ler aquele livro, aprender física, baixar músicas. Mesmo continuar rabiscando aqui. Depois de um ano, minha unha está comprida novamente. Talvez eu até queira pintá-la de vermelho. E tampar os espelhos. Isso, tampar todos os espelhos.
terça-feira
-
Fomos tão bem educados para interpretarmos problemas matemáticos e uns poucos poemas predecorados que nos esquecemos de interpretar pessoas, gestos e atitudes. É que o mundo está mais prático, as regras hoje são mais simples. Os costumes mudaram: agora basta perguntar. O problema é responder...
Queria que alguém me entendesse sem eu precisar falar.
Que alguém soubesse o que dizer.
Soubesse o que quer dizer.
O que eu quero dizer.
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segunda-feira
Meu futuro
Me peguei olhando demais para os homens de camisa de manga comprida e calça social, para seus carros do ano brilhantes, para os cabelos curtos e escovados de suas esposas, para seus filhinhos de olhos claros; de repente descobri que morro de vontade de fazer parte dessa estupidez.
Demonstro princípios antimaterialistas o tempo todo, e nem vou me dar ao trabalho de esconder minha hipocrisia sob a pressão da mídia. Acontece que, por mais que eu idolatre a ideia de uma casa no campo, paz e conforto, eu não posso dizer que um emprego importante e férias no exterior sejam noções que me causem repulsa. Quero-as, e por vontade própria.
Penso muito a respeito: o que eu vou fazer, como eu quero viver. E ainda que na maioria arrebatadora das vezes eu diga desprezível o sucesso financeiro se em contrapeso estiver a realização pessoal; eu não pretendo viver de esmola. Nem de esmola, nem sem os prazeres da vida moderna.
Ainda me surpreendo com a minha própria insensatez por vender valores nos quais nem eu mesma acredito. É simplesmente lindo renunciar ao capitalismo e me cercar de moralismos; mas percebi o outro lado quando vi que são poucos os assim predispostos. No ponto extremo do meu sonho respondo por uma sociedade alternativa, onde não circula moeda alguma. Maravilhoso. Mas e quando a comida faltar?
Impossível acreditar em uma vida sem pretenções. Meus filhos fugiriam dali o quanto antes; os olhos brilhando só de pensar na cidade grande. Eu mesma não tenho espírito pra viver essa perfeição. Eu sou humana, colegianda e abarrotada de ambições. Eu quero passar no vestibular, fazer faculdade mestrado e doutorado; eu quero ocupar um alto cargo, quero um carro macio e dar uma educação de elite para os meus filhos. Eu, mera idealista corrompida que sou, quero uma casa de campo para ir aos fins de semana.
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domingo
Um minuto sem verdade

Eu quero um pouco da hipocrisia burguesa, da vida inventada, da classe imaginária. Quero um pouco do glamour, dos cortejos, da burrice bem polida. Quero um pouco daquela maquiagem, e um pouco daquele sorriso estampado. Quero ouvir só coisas belas, e falar só o que quiserem ouvir. Quero um minuto sem verdade.
quarta-feira
Intensidade e plenitude.

Eu quero ouvir minha respiração ofegante,
E sentir meu coração bater
Eu quero descobrir como é amar,
E saber o que é viver
Eu quero correr pela estrada deserta,
E empurrar as pessoas na multidão
Eu quero soar pra ficar limpa,
E desentoxicar minha imaginação
Eu quero nadar nos lagos azuis,
E me afogar nas emoções
Eu quero brincar com os meus medos,
E caçoar minhas decepções
Eu quero ver o sol nascer,
E beijar o sal do mar
Eu quero ver você chorando,
E saber te consolar
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