"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

sábado

Novo mundo.


Ela estava parada, com todo um mundo a sua frente. Sentou-se na ponta do precipicio e observou com a calma de um pai.

Pensou no velho mundo que se esvaía de cada folha que ela conseguia ver dali. Pensou nas novas modas e manias que se impregnavam nos vãos das rochas, e pensou nos amigos que já teve.

Carregada pela nostalgia, ela reviu cada sorriso e sentiu novamente os melhores abraços; e então relembrou a bruscalidade com que tudo acabou.

Um dia fora tudo tão limpo, tão harmônico, tão inabalável. Ela chorou por não ter visto este dia. Como é que conseguimos desmoralizar tanto nossa própria honra?

Embargada pela culpa e pela saudade, ela jogou uma pequena pedra para além do nada do abismo. Beijos sem qualquer emoção. Palavras sem qualquer fundo de verdade. Consolos superficiais. Ideais baratos. Não não, não é neste mundo que ela quer viver.

Ela queria tanto ser diferente. Sentir de verdade, ver de verdade, ser de verdade. Mas no novo mundo não havia espaço pra nada disso... Olhou pra frente novamente e lembrou-se de que o motorista ainda estava ao seu lado, segurando suas compras e esperando para levá-la de volta ao hotel, quando ouviu sua voz pela primeira vez:

- A cidade não para de crescer. O que diabos estão esperando para cortar estas arvores velhas e construir um hotel descente por aqui?

E com a inexpressividade de um recém nascido, Miranda pegou as sacolas e entrou na Mercedes parada a poucos metros dali.