"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

sábado

Limitar a educação?

"A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida."
(John Dewey)

É um pouco incoerente reclamar sobre a educação nacional e erguer placas contra quando alguém sugere alguma mudança, mas eu não me convenci de que a proposta de José Fernandes de Lima, do Conselho Nacional de Educação (CNE) seja satisfatória.
A ideia é que as escolas priorizem uma área do conhecimento, dando a esta maior ênfase. As tais áreas ficariam divididas em ciência, tecnologia, cultura e trabalho. O objetivo alegado é aumentar o interesse dos alunos na escola, o qual segundo as estatísticas é atualmente muito pequeno. Com a ultrapassada premissa de "aproximar a escola do aluno", a nova configuração - que deverá atingir o ensino médio, caso a medida seja homologada pelo Ministério da Educaçao (MEC) - pretende tornar o conteúdo dado em sala de aula mais condizente com a carreira que o aluno pretende seguir, o que em teoria aumenta o empenho dos estudantes em realmente aprendê-lo.
A sugestão é que as áreas de atuação das escolas sejam coerentes com a localização das mesmas - o que eu particularmente acho horrível. Os exemplos não ficaram claros para mim, pois não especificou-se exatamente o que se inclui em cada uma das áreas (quais as divergências entre 'ciência' e 'tecnologia', e que diabos se estudará na área 'trabalho'?), mas predestinar as pessoas de acordo com o local onde vivem me parece muito errado.
Se cidades industriais focarem-se em tecnologia, e cidades litorâneas em cultura, ainda que nenhuma cidade fique sujeita a apenas uma área de aprofundamento já que existem várias escolas em cada uma, a diversidade de pensamento - e quiçá o senso crítico - serão prejudicados.
Ao meu ver, o processo educativo perderá sua essência, pois já não terá como objetivo proporcionar conhecimentos diversos para que o aluno, o ser humano, descubra-se e forme-se de acordo com suas crenças e preferências. Na verdade, acho que tal divisão da escola em áreas de atuação causará um grande alienamento, que contrapõe-se integralmente ao meu conceito de escola ideal.
Além disso me preocupa a noção de que se essa medida for aprovada, a escolha da carreira a ser seguida pelos alunos se antecipará ainda mais, e se já é um suplício ter que decidir qual área seguir no terceiro colegial, decidí-lo no primeiro colegial - ao optar pela escola e por conseguinte pela área de atuação da mesma onde será cursado o ensino médio - é uma péssima ideia.
Ao concluir o ensino fundamental, os adolescentes geralmente não têm ainda a noção de a qual área do conhecimento pretendem se dedicar. Esta é uma escolha muito importante e que exige maturidade e autoconhecimento. É insensato pedir que alguém de catorze anos saiba o que pretende fazer de seu futuro - já acho insensato exigi-lo a pessoas de dezessete.
A educação brasileira precisa melhorar em todas as áreas, e não cumprir seu dever em apenas uma. Soa como comodismo, como enganação. "Se não conseguimos ser bons em todas as áreas, abandonemo-las para nos esforçarmos em apenas uma", é como eu ouço a notícia. A educação não será melhor se cumprir de verdade o seu papel em apenas uma área, pois tornar-se-á deficiente nas outras.