"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

quinta-feira

Tutela do Brasil

A mamãe fala mal do papai. O papai fala mal da mamãe. Vovô, vou votar nulo.
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Estou escandalizada. Nunca acompanhei política antes, então talvez esse seja o incentivador do meu assombramento. Contudo, mesmo por um ângulo de aceitação e banalização das baixarias do horário eleitoral, as coisas ainda me parecem sérias.
Tudo bem, alfinetadas entre as oposições eu nem tento discutir, tirar vantagem de todos os deslizes dos outros candidatos já virou pré-requisito da politicagem. O que me incomoda, ainda, são as manifestações populares. A confusão que os "militantes" causaram no Rio de Janeiro não me parece normal, nem justificável, e a bobina de fita crepe arremessada no candidato José Serra menos ainda.
Estamos em uma democracia, e em período eleitoral. Democracia, você pode se expressar livremente, sem violência. Eleitoral, você pode escolher, sem violência. Ninguém está se impondo no poder, ninguém está se colocando acima da força popular. Por que, então, tantas manifestações? Concordo plenamente com a ideia de expressão de opinião, e não vejo nada de errado em debater visões políticas diferentes. Na verdade, acho que ambos são essenciais no presente momento. Mas não há explicação para tumultos e agressões físicas.
Ontem (ou anteontem, os jornais se acumulam e ficam jogados pela minha casa) foi publicada na seção de fotos do jornal A Cidade uma pichação, aqui em Ribeirão mesmo, que incentivava o voto nulo. Fiquei muito preocupada com o ocorrido, pois a ideia de movimentos a favor da anulação de voto me parece radical e digna de um quadro imensamente mais grave que o atual - quero dizer, a Dilma tem cara de má e as olheiras do Serra me assustam, mas não estamos sob uma ditadura nem nada do tipo.
Depois procurei pela pichação para aqui publicar e me deparei com inúmeros materiais de conteúdo parecido - charges, camisas, vídeos e artigos expressando a revolta popular.
Mas eu me pergunto, revoltados por quê?
É certo que os ditos golpes baixos do horário eleitoral instigam violência, - e me atrevo a dizer que Dilma não tem maturidade para entender com o que está mexendo - mas vamos com calma. De primeiro achei tudo vil e baixo e quis desligar a televisão, já que na minha inocente concepção política era algo digno e importante, e esse tipo de ataque nunca acontecia explicitamente. Mas, superada a frustração, mudei minha visão sobre o tema. É certo. É importante. É bom que os próprios partidos se desmascarem aos olhos públicos, para que saibamos em o que estamos apostando. Mas, logicamente, a visão crítica de cada um precisa continuar alerta; ou seriamos manipulados pela primeira campanha suja que aparecesse. Só que, assim me parece, uma parte dos brasileiros não tiveram maturidade para filtrar os fatos que devem ser pesados das palavras pesadas que a oposição colocou no meio para descredibilizar o candidato. E daí saem tumulto no Rio, campanhas pró voto nulo e todo tipo de insatisfação.
Mesmo assim, há algo de estranho nesse sentimento de opressão que vem se estampando no povo, ainda mais quando as leis da democracia vêm sendo corretamente seguidas - ainda que nem sempre para bom uso, como vimos diariamente no horário eleitoral do primeiro turno - e, torno a dizer, quando ninguém está nos obrigando a nada. O povo precisa é de pensar antes de agir. Atacar os candidatos não ajuda a esclarecer suas propostas, nem a mudá-las.