"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

quarta-feira

Fones com música no máximo apesar da minha dor de cabeça; quem sabe expulse essa loucura pelo meu nariz?

terça-feira

Tédio no senado

Hoje eu liguei a televisão no TV senado. Não vou mentir, estava tentando pôr no canal de música, mas errei o número, e então tive preguiça de mudar novamente já que eu ainda não tinha despertado completamente. Bom, com a pálpebra pesada e a bebericar meu café, comecei a assistir. Que grande decepção.
O canal está de parabéns, explicando acontecimentos históricos e o funcionamento do nosso sistema político de forma clara nos intervalos, incentivando a cultura e noticiando o telespectador sobre os projetos de lei aprovados mais recentemente. Meu problema foi com a sessão do senado a que assisti.
Apesar do meu incômodo com como o representante de tal lia mal, com estranheza, aparentando nunca ter visto antes o papel que lia, o meu problema real foi com como era feito: dois homens de idade avançada sentados em uma mesa com papéis e um copo de água, lendo suas falas - fiquei inconformada, eram falas mesmo! Um se dirigindo ao outro através da uma leitura plástica. Estavam lendo projetos de lei já aprovados e sugestões para os tais com uma entonação tão morta que eu duvido que eles mesmos estivessem realmente concentrados no que liam. Ademais, eles fizeram a reunião toda em trinta minutos, dando pausas de só alguns segundos para argumentação pelos presentes. Claro que ninguém se pronunciou. Me pareceu ser sempre assim, e não houve manifestações que desmentissem isso.
Por que, afinal, todos aqueles senadores estão recebendo salário? Nem um mísero comentário. Ao meu ver eram todos figurantes de um teatro ruim - um teatro ruim, foi a exata impressão que tive. Pessoas, instruídas e civilizadas com ternos vindos da lavanderia, lendo e ouvindo palavras de um português nada usual; fingindo o que o cargo impunha e agindo segundo as formalidades. Em momento nenhum eu vi naquilo algum tipo de vontade ou verdade.
Roupas bem passadas e palavras bonitas nunca vão resolver nossos problemas. Pessoas reais, com sentimento - estudo também - e muita determinação é que vão. Não encontrei determinação nas vozes que ouvi em tal sessão.
Contudo, a minha decepção não desmerece em nada o canal, o qual recomendo. Pode não ser mais legal que o canal de música, mas é preciso que os nossos direitos sejam sabidos por nós, para só então ser sensato esperar que sejam reivindicados. O canal é acessível por parabólicas, televisão paga e mesmo aberta em algumas cidades; além de estar disponivel no site do mesmo.

domingo

sobre a igreja católica

Aeae pessoal, foi decretado que o Limbo não existe mais. Limbo é o lugar para o qual as pessoas de bem não batizadas vão. Bom, iam né. Agora o Papa e um grupo de graduados decidiram que "como Deus é piedoso, ele quer que todos os seres humanos sejam salvos". Maravilhoso, não é? Deus quer! "A partir de agora, pela resolução do Vaticano, as crianças que morreram e vierem a morrer antes de serem batizadas poderão ser salvas." Eles deixaram!! Ah, meu priminho vai finalmente encontrar a paz, cara, eles são o máximo mesmo né?! Eu devia ir até lá agradecer com ouro e segui-los pra sempre.
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Ok, achem o quão imaturo quiserem eu tratar com sarcasmo uma questão levada a sério por muitos; não pude evitar. A notícia é um pouco antiga (bastante, é de 2007), trombei com ela sem querer e precisava dividir minha indignação com alguém. Depois eu digo que religião é criação do homem e os fanáticos se ofendem, mas poxa, o papa está aí pra provar a minha tese sem eu nem pedir. Pois ele, e seus teólogos assistentes, decidiram por si a inexistência do limbo. Ou vai dizer que deus escreveu pra eles no alto de outra montanha?! Essa cegueira me incomoda. Está tudo alto e claro, mas alguns preferem fingir. Apenas uma questão de maturidade emocional para entender o mundo sob esse ou aquele prisma, eu sei, mas defender uma instituição que se desmoraliza por livre e espontânea vontade? Por favor, acordem logo.

sábado

Reflexo

Sinto raiva do espelho. O reflexo me pega desprevenida, me assusta e me decepciona. E o impulso é julgar, sempre é julgar; por prazer, por maldade, por necessidade, por distração... Logo eu me coloco encurralada. Jogo no espelho a minha desaprovação, mas ele reflete. Me encara com os olhos frios, com a mesma boca torta por sinismo. Aumenta ainda mais a minha raiva. E a incompreensão. Quem é ela pra me julgar? O que ela pensa que é pra vir vomitar tamanho desprezo? As sobrancelhas arqueadas, a face sempre apática. Estou cansada do espelho. E dos cadernos, das coisas, das roupas. Há tempos que também estou cansada das palavras. Das noções vagas, dos planos falhos, de toda essa esperança. Odeio assistir ao noticiário. E a filmes que não entendo. Me forçam a engolir a covardia da vítima, os golpes mal dados, a manipulação da mídia, o roteiro vago e mal iterpretado, os clichês vazios... A minha realidade. E estou farta dela. Não aguento mais nenhuma colherada, gole, pedaço, alusão. Mas tudo bem, faz tempo que não assisto a filmes ou noticiários. E também faz dias que não penso no meu desconforto comigo. Estou aprendendo a deixar, esquecer, me distrair, calar. E também estou tentando aprender a usar certo a cedilha. Voltei a decorar o meu quarto, é um bom sinal. Quero muito colocar renda no teto, comprar um lustre de palha, tirar os adesivos de Wendy e de coraçõezinhos da porta, terminar de colar as frases em cima da cabeceira... E continuar folheando as revistas sobre profissões, terminar de ler aquele livro, aprender física, baixar músicas. Mesmo continuar rabiscando aqui. Depois de um ano, minha unha está comprida novamente. Talvez eu até queira pintá-la de vermelho. E tampar os espelhos. Isso, tampar todos os espelhos.

terça-feira

mais férias

Sabe quando você canta junto com a música no tom exato do cantor, e então acredita que nem é tão difícil, mas depois tenta sozinho e percebe que você é terrível? É mais ou menos como quando você começa um desenho, acha que vai ficar esplêndido, e quando você termina e olha de longe descobre como as coisas ficaram desproporcionais e confusas e estranhas e horríveis. Também lembra aquela sensação de quando você começa a escrever um livro, pára na página 30 e percebe que odiou. Aí você religa a música, apaga o texto e rasga o desenho, olha pra baixo e vê que uma janela do msn está piscando: um desocupado resolveu te cumprimentar. Então você responde, e ambos conversam inutilidades até você esquecer de todo o resto... É, talvez não seja tão chato assim ter "amigos".

(sim, ainda preciso das aspas)

quinta-feira

férias

Tenho tomado banhos semanais, só escovo meus dentes de três em três dias e nunca mais estendi a cama. A louça eu uso quantas vezes precisar, e deixo as formigas se encarregarem das baratas mortas. Também tenho matado borboletas. Quer dizer, elas me incomodam e só diferem das baratas ou pernelongos pela beleza. É tão estúpido matar mosquitos e poupar borboletas.
Não almoço direito já faz um tempo. Também faz um bom tempo que eu não estudo. Do livro que eu estava lendo com tanta vontade, não viro uma página faz semanas. Os papeis coloridos que comprei pra decorar o quarto continuam na sacola, ao lado dos recortes de jornal que seriam um mural, e acho que nunca assisti a tantos filmes seguidos. Dia desses fui ao centro de pijama.
Acabei de rabiscar minha mão. Bastante. Sujei a mesa por sinal, adoro me riscar quando não tenho o que fazer. Minha barriga está queimando de fome, acho que esqueci de comer. Tanto faz, estou resolvendo com chocolate. Minha caligrafia está mundando. É engraçado, ela muda todo ano. Minha cachorra já está quase aprendendo a repôr o pote de ração sozinha. Não sei de mais nada. Estou uma bagunça e sem vontade de arrumar.

terça-feira

Vencido por resistência

Ultimamente ele vinha negando todos os seus valores sem motivo aparente. As pessoas já não o entediavam tanto, até voltara a tomar banhos regulares. Chegava a fingir que havia encontrado motivos maiores, que pretendia ascensão espiritual; e pode-se dizer que era um bom ator. Espelhava-se agora nas qualidades mais bonitas de seus ídolos, estava até começando a voltar atrás em suas palavras turronas. Resolvera se inspirar em noções menos filosóficas, mais mundanas e plausíveis; algo mais perto do presente. E estava indo bem, até aquela madrugada.
Bisbilhotava sites aleatórios para espantar o tédio e o sono, até que encontrou teorias absurdas que de tão improváveis o davam certo conforto. Mergulhou de cabeça nas doutrinas bizarras, por distração. Sabia-as tolas, mas era tarde e nenhum conhecido online tinha palavras interessantes para dividir, então continuou. Leu até a manhã seguinte, mas nada como nos filmes. Não se manteve a base de café - não surtia efeito nenhum nele - e acabou cochilando por muitas vezes durante os trechos demasiadamente técnicos. No dia seguinte tinha olheiras, mau hálito e dores no corpo, e então dormiu como pedia-lhe seu corpo meramente humano. Acordou com o calor da tarde, desconfortável, tomou banho e ligou o computador novamente.
Leu mais alguns artigos, sentiu vontade sincera de ser estudado o bastante para provar ou derrubar algumas das teorias, depois sentiu tédio, e então voltou a rir de si.
De teorias da conspiração passara para idealismos religiosos e então para sociedades secretas - não que os três fossem assuntos realmente distintos -, e se lembrou de como tudo aquilo era ridículo. De qualquer forma, estava com fome e dor de cabeça, então se enfiou em um jeans velho, cobriu a camiseta já fina pelo uso com uma jaqueta igualmente desbotada, juntou seu caderno de anotações, a carteira e as chaves em uma bolsa e entrou no carro.
Foi a um restaurante barato, passou na drogaria e então resolveu visitar a biblioteca local. No andar de baixo, a sessão que ele sempre visitara. Pediu por um dos livros que tinham sido citados nos trabalhos que ele lera na noite anterior, e o bibliotecário o olhou com olhos duvidosos. Ele parecia novo mas já tinha indícios de calvice, e isso unindo-se a sua magreza e grandes olhos fez com que o outro visse nele alguém interessante. O bibliotecário o indicou o andar de cima, onde ficava o material de pesquisa da biblioteca, e o rapaz se surpreendeu por nunca ter sabido de tal andar. Subiu e se deparou com outra bibliotecária, essa bem mais velha, que aparentou não gostar dele logo no primeiro instante.
Foi entrando na sala, mas a mulher o parou. "Você não pode entrar. Escolha o livro, e eu pego", e colocou ruidosamente na mesa um catalogo não tão grosso quanto o rapaz esperava encontrar a julgar a decoração do lugar. Encontrou apenas um dos livros que lhe havia interessado, e achou que seria suficiente para começar. Pediu-o, e a mulher o entregou.
Sentou-se num banco, ali dentro mesmo, e abriu o livro. Leu os capítulos que pelo título lhe despertaram maior interesse, e depois de cerca de cinquenta páginas das mais loucas crendices, resolveu que já era o bastante.
Voltou para casa a pé, irresponsável quanto ao carro, para aproveitar o ar fresco da tarde, e se sentiu absurdamente bem por não ter então nenhuma linha a sua frente lhe guiando os pensamentos. Cansou-se perto de uma praça, então parou e sentou-se por lá. Consciente da sujeira do lugar, deitou-se no banco e se pôs a analisar o céu. Não que encontrasse o que analisar, ou que aquilo lhe fizesse sentido; mas era o que sempre havia visto fazerem nos filmes, e quis se sentir alegre por dentro como a expressão dos atores parecia demonstrar. Não conseguiu. A luz doeu-lhe, não entendia o desenho das nuvens e em pouco tempo o banco duro começou a incomodar. Foi mais ou menos nesse ponto que se lembrou de que normalmente os atores se deitavam na grama verde, com as cestas de piquenique ao lado, e ladeados de uma companhia do sexo oposto para dividir a tolice do momento. Bom, sem ter o trabalho de sentir-se bobo, sentou-se e ficou a olhar para frente. A praça até que estava movimentada. Velhos com cachorros, pais com filhos pequenos, e um ou dois casaizinhos. Comprou um sorvete ali por perto, voltou à praça e reabriu o caderno. Tinha resumido algumas ideias, copiado alguns conceitos necessários ao entendimento das mesmas, e nos cantos tinha rabiscado com sua caligrafia desleixada e quase ilegível as suas próprias conclusões e discordâncias. Olhou novamente para frente, a praça ficava perto de algumas ruas comerciais. Viu mulheres com sacolas, crianças andando em velotróis, crianças maiores correndo umas atrás das outras, e olhou de novo para o caderno. Deu mais duas colheradas no sorvete, foi até a lixeira e jogou ambos, o sorvete e o caderno, no lixo. Voltou para onde tinha deixado o carro, não gostava mesmo de andar, entrou nele e foi para casa.
Não encontrou nenhuma garota estonteante no caminho, não teve nenhum tipo de esclarecimento sobre a vida, nem mesmo se livrou da dor de cabeça. Só foi para casa, ligou o computador e voltou ao seu sarcasmo habitual.
Engraçado como eu esqueço que tenho princípios em questão de minutos quando não estou triste nem irritada.

domingo

Ego

Nós não somos nada além de uma coincidência da evolução. A espécie humana não tem nada de especial senão o fato de ser a nossa. Tudo isso é invenção. O nosso deus, a nossa moral, cada valor e cada significado desde o mais simples, está na nossa cabeça e só.
O mundo material não faz sentido. Nenhum dos meus desejos fazem.

...Só que eu cansei de ver desse jeito.
Estou aqui por motivo nenhum e com finalidade nenhuma. Isto é, nenhuma além de perpetuar a espécie, mas já está claro que perpetuar a espécie é tão inútil quanto eu. Não posso continuar existindo com essa concepção, então optei por ignorantemente negá-la.
Idependente dos motivos, a vida existe e eu estou aqui. Então tudo bem, vou viver até quando conseguir e vou estudar coisas que me interessam, mas sem me culpar por ler sobre criações mundanas que nada valem. Talvez um dia eu até esbarre nos conceitos que me assombram; mas nunca mais vou deixar que eles me governem.
Sou nova e inconsequente, sei pouco de mim; contudo posso dizer, alto e claro, sem medo da pretensão, que entendi o princípio da vida: ela não é poética ou apotética como iludiam-nos os filósofos. A vida é um acaso, e as razões do mundo não estão em nenhum lugar fora da consciência humana.
Não preciso mais existir nesse erro. Vou continuar aqui, e agora livre por saber que razão nenhuma me coage.
O engraçado é que eu ainda não estou feliz...

quarta-feira

!

Que saco
Preciso de uma ocupação que não seja pensar
Meus pensamentos estão me enlouquecendo
Quero um modelo pra admirar
Ou simplesmente alguém pra gostar
Quando vão dizer as palavras que me tiram o fôlego?
Preciso me sentir diminuída perto de alguém melhor
E de algo que me deixe acreditar na sua poesia grotesca
Essa ansiedade por me culpar
Tô cansada de me arrepender sem motivo nenhum
De fingir que vivo tanto na minha ideologia quanto na minha hipocrisia
Eu sei que não existo pra nenhuma das duas
Meus desabafos me irritam de um tanto... (nem vou tentar coesão)
Minhas desilusões são sempre tão tolas
Eu sou tola
E ainda assim acho justo exigir alguém superior
Pra fingir que amo
Ainda me acho digna de escrever com letra maiúscula
Não, eu não sou
- não sou -
Te acho tão ridículo
Não te entendo
E nem você a mim
Gosto de fazer coisas que eu repudio pra afirmar minha baixeza
Quando me julgam vil e me convencem
Pois é
Que belo lixo
Meus grandes dilemas nunca passaram de besteira
Hahaha, e eu que me acho importante
Droga, e vocês?
Todas as minhas sílabas passam pela minha censura
Apago as verdades que podem ferir aqueles mais frágeis
Mas os fonemas não
Por isso sou boba
Ainda mais perto de alguns
Na verdade sou imbecil em tempo integral; escondo bem
Ao ponto em que vejo que alguns o reconhecem vejo que outros me admiram
Tenho dó
Só metas compradas e sonhos implantados
E aquilo que eu realmente quis logo se provou impossível
Nessa droga legalizada (e sem efeito)
Pois é, sem coesão
Mas tanto faz, ninguém entenderia ainda que eu usasse as palavras direito
Se eu conseguisse
Enfim, ...
Que saco.