"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

terça-feira

Nossas páginas

"People are just people
They shouldn't make you nervous
People are just people like you..."
(Regina Spektor, Ghost Of Corporate Future)


Sempre ouvi dizer que todos somos legais até a segunda página. Estou começando a discordar. Afinal, todo mundo é legal exatamente depois da segunda página - na máscara somos todos clichés. É inegável que nas primeiras conversas com alguém estejamos todos encenando um papel, fingindo sermos o que melhor nos aprece, ou mostrando a nossa face mais trabalhada. E essa parte da relação é tediosa. Mais tarde, quando tirados os saltos e as maquiagens, é que a pessoa começa a mostrar quem ela realmente é. Somente lá pela quarta página é que podemos descobrir-lhe as reais qualidades e defeitos, sentir algo em relação a ela e ter um esboço de opinião a respeito. Antes disso, é tudo raso e fútil.
Mesmo porque julgar a pessoa até a segunda página é a maior injustiça. E se a casca dela não condiz com a sua? Isso não deveria significar que vocês não se darão bem. Quem já foi forçado a conviver com alguém cuja máscara lhe fosse repulsiva talvez concorde: depois da segunda página, quando não há mais tribo, classe social, time ou partido político, todos nós somos muito parecidos e capazes de afinidades. As primeiras páginas só servem para seccionar as pessoas, algo que eu acho extremamente inútil e triste. A diversidade da mentalidade humana é o que mais me encanta, não consigo concordar com a ideia de fugirmos de pensadores à priori diferentes.
Mas não posso fechar meus olhos ao fato de que estar rodeado por semelhantes gera conforto e é essencial, já que do contrário nos sentimos deslocados e frágeis e isso é muito desagradável. Insisto, porém, em que não passa de uma questão de ponto de vista: só iremos nos sentir estranhos longe de máscaras com as quais nos identificamos enquanto classificarmos as pessoas por tais máscaras. Uma vez entendido que essa casca é dispensável e estando-se decidido a olhar mais fundo, nós podemos compreender e sermos compreendidos por qualquer um. Sentirmo-nos deslocados é um erro da cultura imposta quando entendemos que o ser humano é nada além de um ser humano, em qualquer lugar. Aceitar e ser aceito só depende de lermos o trecho inteiro.

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pff, tá mesmo perdendo seu tempo?