"Questão a resolver: como conciliar a crença que o mundo é, em grande parte, uma ilusão, com crença na necessidade de melhorar essa ilusão? Como ser simultaneamente desapaixonado e não indiferente, sereno como um velho e ativo como um jovem?" Aldous Huxley

quinta-feira

A revolução que eu hei de instigar

Por que estamos nos fechando, nos calando e fugindo? Quanto mais eu aprendo sobre o mundo de hoje - globalizado, urbanizado, industrializado, científico, racional e superlotado -, mais eu percebo que as pessoas estão agindo mal consigo.
Que não soe como propaganda socialista, mas na nossa sociedade as pessoas estão tão presas ao consumo ou ao trabalho que esquecem de zelar por sua própria condição como ser humano. De tão atarefados, percebo que o padrão é que elas ignorem valores pessoais, autoentendimento, as crises existenciais rotineiras e os anseios de mudança para gastarem seu precioso tempo em banalidades estéreis: o trabalho, os filmes e livros massificados, as compras e o transporte coletivo estão roubando-lhes preciosas horas de existência.
O problema é que esse costume vem se transvestindo em algo natural e, o mais preocupante, cultural. O perigo desse crescente desinteresse com questões psicológicas profundas é que os nossos sentimentos não se apagam simplesmente por não receberem atenção. Na verdade eles se agravam, pois, quando não são corrigidos ou canalizados no começo, sentimentos dessa espécie tendem a crescer e a tornarem-se comuns, de forma que, a cada dia que passa, fica mais difícil dar-se conta do absurdo daquela tristeza irracional, cuja tendência é ser considerada normal.
E é por isso que, dizem os jornais, o consumo de calmantes e antidepressivos atual é tão grande. As pessoas ignoram o próprio inconsciente pela dificuldade que representa tentar entendê-lo, e assim seus problemas escapam do controle. Quando esses problemas começam a realmente interferir na rotina de seu sujeito, este procura por drogas psiquiátricas para calarem-no sem gasto algum de tempo ou psicologia. E o resultado é a perda da consciência de si mesmo, da própria existência.
Quando alguém opta por alienar-se de si, a capacidade crítica e de criação dessa pessoa é seriamente danificada. Alguém que prefere fechar-se para os próprios sentimentos não é capaz de ajudar o mundo com novas ideias, não é sequer capaz de agir por alguma causa. Nós, cada um de nós, somos o ser mais importante do universo em nossa própria concepção - nascemos vivemos e morremos conosco, nossa lucidez para com nossa condição é o que há de mais precioso, deus nenhum pode salvar-nos da loucura de não estarmos presentes em nós mesmos. Logo, se abdicamos desse autoacompanhamento, se entregamos nosso estado psicológico ao acaso enquanto escondemos os sinais de que algo precisa ser feito quanto a eles com antidepressivos, por conseguinte, se deixamos de estar presentes em nós mesmos, como podemos estar presente em qualquer outro assunto? Como podemos ter alguma opinião política? Como podemos ter algo a dizer? A desimportância das pessoas consigo, que anda em voga no século XXI, causa mais que alta nos números de depressão e insatisfação: causa também alienação política, o que viabiliza corrupção, manipulação, injustiça - todos fontes de novas crises emocionais subconscientes.
As pessoas têm fechado os olhos para a própria condição na esperança de encontrarem fora de si a realização e o incentivo que as faltam, e aparentemente têm procurado-no no consumo e nos ídolos do rock, e estes, tenho dito, são drogas psiquiátricas providenciadas pelo governo para manter o povo quieto e distante como convém.
Entretanto toda droga para de fazer efeito um dia (não há meia vida que suporte tantas depressões consecutivas), e quando doses suficientes não puderem ser encontradas - o que eu não acho improvável, pois a desesperança, o niilismo e a preguiça existêncial podem reproduzir-se tão rápido quanto bactérias em um meio adequado, e a juventude hodierna é o meio adequado - quando doses suficientes não puderem ser encontradas, restar-nos-ão duas alternativas: enlouquecimento e suicídio, ou, minha preferida, revisão de conceitos.
Quando, finalmente, depois de muita decepção, as pessoas começarem a descobrir que reprimir suas tristezas por praticidade está fazendo-as doentes, quando entenderem que não há nada que resolva o vazio interno senão autobservação, elas irão (serão obrigadas a) dar um basta e enfrentar a si mesmas. Só depois dessa revolução pessoal será possível alguma mudança - mas, para os que dizem que a minha geração não tem valor histórico, eu peço mais algum tempo. (revoltas em Londres, revoltas no Chile, revoltas no Mundo Árabe... evite julgar um ser humano antes que ele amaduresça, é tão injusto...)

Uma instrospecção de um professor que hoje ganhou minha estima:
"A mente é a droga. Pensem, imaginem, que dá barato. Mas tomem cuidado, tudo tem uma contraindicação..."

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pff, tá mesmo perdendo seu tempo?